O Porto, cidade repleta de tradições, enriquecida por uma história profunda e habitada por pessoas genuínas, adiciona mais uma página dourada ao seu livro de feitos. Na mesma semana em que se decidiu incluir “Gisberta” na lista de futuros nomes de ruas da cidade, a Invicta é anunciada como a anfitriã da Annual General Meeting (AGM) da European Pride Organisers Association (EPOA) em 2024. Esta escolha, que antecede o grandioso EuroPride 2025 em Lisboa, vai muito além de uma vitória logística ou de marketing. É, acima de tudo, o reconhecimento da cidade e do país como símbolos de diversidade, inclusão e direitos humanos na Europa.
É inédito que Prides de variados contextos europeus se reunirão na Invicta. Desde os mais grandiosos e bem financiados, presentes em metrópoles vibrantes, até os mais singelos, nascidos em locais onde ser LGBTI+ é sinónimo de opressão e perseguição, todos encontrarão no Porto um terreno comum de união e resistência.
Este sucesso deve-se, em grande parte, à VARIAÇÕES. Esta associação tem dedicado esforços incansáveis na promoção de Portugal como um destino hospitaleiro para a comunidade LGBTI+, ao mesmo tempo que defende a descentralização dos eventos, assegurando que cada recanto do país seja permeado pela mensagem de igualdade e aceitação.
Para alguém como eu, que tem estado profundamente envolvido na promoção do turismo LGBTI+ em Portugal e que tem acompanhado de perto a evolução dos direitos e da representatividade da comunidade LGBTI+ no nosso país, este anúncio é uma verdadeira pedra miliar. Contudo, este não é um feito isolado, mas sim o resultado de anos de trabalho árduo, dedicação e, sobretudo, paixão.
O progresso de Portugal em relação aos direitos LGBTI+ tem sido notório. Desde a descriminalização das relações entre pessoas do mesmo sexo em 1982 até à legalização do casamento homossexual em 2010, Portugal tem estado na linha da frente pela igualdade. Porém, direitos registados apenas têm real impacto quando ecoam pelas ruas, celebrações e vozes do povo. É neste contexto que eventos como o Porto Pride e o futuro EuroPride 2025 em Lisboa são cruciais.
Não se pode menosprezar o papel desempenhado pela equipa do PORTO PRIDE. Estes activistas não só contribuíram decisivamente para a vinda da AGM ao Porto, mas também laboram diariamente sensibilizando as entidades da cidade sobre a relevância da inclusão LGBTI+.
A liderança da cidade do Porto, em especial a visão progressista do Presidente Rui Moreira, tem sido crucial neste percurso. A cidade tem demonstrado, através de ações concretas, que não só apoia os direitos LGBTI+ na teoria, mas também na prática. O Porto, com a sua majestosa arquitectura e pitorescas margens, transcendeu a sua função de mero local e transformou-se num símbolo de esperança, inclusão e diversidade para toda a Europa.
A EPOA, enquanto entidade agregadora do movimento Pride LGBTI+ europeu, tem a diversidade no cerne da sua missão. Prova disso é a recente eleição de Lenny Emson, activista LGBTI+ trans da Ucrânia, como seu presidente, ilustrando que o movimento é, de facto, para todos.
Contudo, não podemos ficar complacentes. A celebração da diversidade não se deve restringir a momentos pontuais, mas deve ser uma constante na nossa vida quotidiana. A escolha do Porto serve de lembrete de que temos o dever, e o privilégio, de liderar pelo exemplo e mostrar ao mundo que o amor e a aceitação não conhecem fronteiras.
Num mundo crescentemente polarizado, a EPOA e eventos como a AGM reforçam a necessidade do diálogo entre Prides de diversos países. Trocar experiências e apoiar-se mutuamente são essenciais para consolidar o movimento à escala global. Esta reunião serve não apenas como um meio de celebração, mas também como uma oportunidade para refletir sobre o sectarismo que, por vezes, se infiltra no movimento LGBTI+. É um momento para rejeitar extremos e concentrar-se na essência: a defesa intransigente dos direitos humanos para todos, independentemente do género, orientação sexual ou qualquer outra característica.
Ao optar pelo Porto, a EPOA não só reconheceu os esforços da cidade e do país, como também nos colocou perante um desafio. O desafio de prosseguir na senda do crescimento e da evolução, e de continuar a celebrar a diversidade em todas as suas formas incríveis.
Não se deve esquecer que o Porto não foi escolhido por acaso. Várias organizações demonstraram um apoio firme e inequívoco a esta iniciativa. O respaldo da Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, da CIG, da Associação de Turismo Porto e Norte, do Turismo de Portugal e da It Gets Better Portugal foi determinante para que um evento de tão grande projeção internacional se realizasse na cidade.
No próximo ano, quando as bandeiras coloridas do arco-íris se exibirem com orgulho nas ruas do Porto e, um ano depois, em Lisboa, será uma manifestação clara do progresso que alcançámos, da resiliência que mostrámos e da determinação inabalável de continuar rumo a um futuro mais inclusivo. Ao fazê-lo, Portugal não se limita a seguir o rumo. Portugal lidera. E o mundo observa, atento.
A realização destes eventos em solo português é mais do que uma celebração; é um convite ao diálogo e à união. No meio de tanta discórdia global, é um sinal poderoso ver a comunidade LGBTI+ a unir-se, a apoiar-se mutuamente, a aprender uns com os outros e a trabalhar em conjunto para um futuro mais brilhante e inclusivo.
Finalmente, é um lembrete de que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, quando nos unimos com um propósito comum, quando trabalhamos juntos e nos apoiamos uns aos outros, podemos superar qualquer desafio e alcançar feitos extraordinários. E isso é algo para verdadeiramente celebrar.
Outgoing Curator dos Global Shapers Lisbon Hub, Diogo Vieira da Silva, Licenciado em Comércio Internacional, detém duas pós-graduações, um MBA Internacional e encontra-se actualmente a realizar um Mestrado sobre Turismo LGBTI+ na Universidade de Barcelona, com recurso a uma bolsa de estudo para talentos. Desde cedo se envolveu na promoção dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI+, tendo ajudado a fundar duas ONG ‘s nesta área e assumido a Coordenação Europeia do Projeto Norte-Americano It Gets Better Project durante dois anos consecutivos. Co-fundador da VARIAÇÕES – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, é atualmente o seu presidente e faz a Coordenação da Campanha Proudly Portugal. Foi Curador do Ciclo de Conferências Fidelidade na Fundação Culturgest sobre questões de Diversidades e Inclusão e é actualmente Head of Press & Media da Embaixada de Israel em Portugal.
O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.