Os acontecimentos recentes na Madeira que conduziram à queda do executivo liderado por Miguel Albuquerque chegam na pior altura possível para o PSD. Aquilo que seria sempre um caso com implicações nefastas para o PSD nacional assume, a poucas semanas das eleições legislativas, uma dimensão ainda mais grave pela forma como a liderança nacional do partido não soube reagir adequadamente.
Como bem explicou Miguel Morgado na SICN pouco depois de serem conhecidos os desenvolvimentos da investigação, a saída de Miguel Albuquerque era inevitável. Luís Montenegro, que poderia e deveria ter tomado a iniciativa num momento que seria sempre muito difícil para o PSD, falhou na reacção e perdeu ainda mais terreno neste tema, que como é sabido é central na estratégia eleitoral do Chega.
Um pouco mais à esquerda, mas na mesma linha de crítica à incoerência da liderança do PSD, Susana Peralta salientou:
“Esta linda brincadeira de manter a confiança política em Miguel Albuquerque mostra que Montenegro não quer saber da corrupção para nada. Quer é atacar os adversários políticos e proteger os seus ao sabor das conveniências. Está a dar-nos um bailinho.”
Aliás, logo na Quarta-feira passada, o líder da IL Rui Rocha tinha sintetizado bem e comunicado de forma clara o que a liderança do PSD demorou dois longos e penosos dias a perceber:
“Miguel Albuquerque tem de se demitir. Os padrões e a exigência ética da Iniciativa Liberal aplicam-se a todas as situações, independentemente dos partidos e das pessoas que desempenham as funções. Exigimos a demissão de António Costa logo que se tornou evidente que não podia continuar no cargo de primeiro-ministro. Exigimos agora a demissão de Miguel Albuquerque de presidente do Governo Regional da Madeira. Se Miguel Albuquerque não se demitir, Luís Montenegro deve retirar-lhe a confiança política.”
A crise política na Madeira e a incoerência na reacção do PSD nacional vêm na pior altura, quando o CH se aproxima cada vez mais do PSD nas sondagens que vão saindo. Adicionalmente, depois dos acontecimentos da última semana fica substancialmente reduzida a margem do PSD para fazer reverter a seu favor os problemas do PS com suspeitas de corrupção. Aliás, a este respeito não só PS e PSD se encontram ambos fragilizados como a situação é de alguma forma simétrica: a nível nacional o governo PS caiu e o PSD parece incapaz de capitalizar a seu favor enquanto na Madeira foi o governo regional PSD que caiu e o PS terá também provavelmente sérias dificuldades para capitalizar essa queda a seu favor. No meio de tudo isto, o principal beneficiário será muito provavelmente o Chega.
Uma última nota para o igualmente fragilizado Marcelo Rebelo de Sousa: não deixa de ter alguma ironia que o Presidente que elegeu a estabilidade política como prioridade acabe a dissolver quase em simultâneo a Assembleia da República, a Assembleia Regional dos Açores e a Assembleia Regional da Madeira.
