Rui Rio prometia pela independência que parecia manter dos grupos de pressão e de influência. Mobilizou militantes mais jovens, relegou os ditos históricos que nada acrescentam para planos secundários, enfrentou os lobbies maçónicos, jornalistas com agenda de terceiros e outros grupos de pressão e não teve medo de “ir a jogo”.

Mas Rio persiste em estar na política como quem está numa junta de freguesia, centrando o partido em si próprio, no presidente (ele próprio), refém do “eu” e raramente do “nós”. Faltando-lhe postura afirmativa e carisma, denunciando um défice de capacidade de comunicação política, acabou vítima de si próprio. A sua “razão” impede-o de perceber coisas simples que aparentemente ninguém lhe quer dizer ou, se dizem, não se fazem ouvir.

Não percebeu que tem de compensar a falta de carisma com ideias e causas agregadoras e que as causas agregadoras se criam com oposição cerrada e não com o “centrão”, a sopa azeda que já ninguém quer provar. Ao afirmar-se do centro, cola-se ao PS – essa é a mensagem que passa e é sobre essa que Rio tem de trabalhar, invertendo-a desde já.

Não percebeu que o PSD se perde no centro porque no centro está o PS, as suas vastas clientelas e o funcionalismo público acomodado. O controlo do centro permite ao PS ficar por ali ou jogar a esquerda com prebendas e conluios de circunstância. Ao PSD só serve o centro-direita ou, se quisermos fugir à geografia política clássica, o conservadorismo político. É deste ponto de partida que o PSD pode puxar liberais, democratas-cristãos e abstencionistas.

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Não percebeu que o PSD é um “melting pot” que só resistiria à sua natureza se a governação fosse provável e se o PSD não dependesse de partidos pequenos que vão ditar as regras de uma futura coligação. A cultura comum deste “melting pot” é a governação – local e nacional – e a descrença que tal possa acontecer em breve é a causa de todas as guerrilhas intestinas, públicas ou não.

Não percebeu que ninguém quer autarcas no núcleo duro de um partido que quer inovar alguma coisa num sistema político decadente que penosamente se alimenta de si próprio em círculo fechado. As autarquias são, justa ou injustamente, a imagem da corrupção, do esquema e do desperdício de dinheiros do contribuinte.

Não percebeu que a afirmação do partido como alternativa à frente de esquerda não acontecerá sobre os restos dos desaires socialistas mas apenas quando os desaires socialistas e dos seus aliados forem a tal ponto visíveis que já ninguém os suporta ver ou continuar a pagar. E que, para que tal aconteça, não pode haver a dita “oposição responsável”, politicamente correta, nem os “pactos de regime” que servem apenas de marketing político para a esquerda e raramente servem a “credibilização” do PSD, um dos “sound bytes” que por aí emergem ocasionalmente mais esvaziados de conteúdo. O PSD torna-se credível quando resolver problemas e só resolverá problemas quando governar.

Rio não percebeu finalmente que grande parte do que foi feito pelo último governo do seu partido (passando à margem do XX governo que durou semanas), o dito “governo da Troika”, foi “rasgado” em poucos meses pela frente de esquerda e que é seu dever, enquanto líder do único partido capaz de liderar uma frente conservadora, “rasgar” toda a governação socialista. Esta é a causa que sobra ao PSD para unir um partido cronicamente ingovernável e iniciar o fim de ciclo do centro-esquerda.