Sexta-feira, 13 de Outubro. No centro da localidade de Arras, em França, pelas 11 horas da manhã, um homem ainda jovem armado com facas dirige-se para o liceu Gambetta. Cruza-se na entrada do estabelecimento escolar com Dominique Bernard, professor de francês. Esfaqueia-o. Bernard cai. Tem dois ferimentos: um no tórax, outro no pescoço. Morre. Outro professor que o tentou defender fica gravemente ferido. Em seguida o atacante entra dentro da escola. Grita Allahu Akbar (Alá é Grande). Na escola há quem fuja. Quem se esconda. Quem o sinta a tentar abrir a porta atrás da qual se está escondido. Um funcionário da escola é a terceira vítima… Entretanto a polícia chega. O atacante é detido.

Com os acontecimentos de Israel a dominarem os noticiários, o acontecido nesta escola francesa passou rapidamente para segundo plano, mas tal não devia acontecer porque se em Gaza os israelitas procuram resgatar 126 reféns, nós, na Europa, fechamos os olhos para não ver o refém 127. Quem é ele? A nossa forma de viver. Como prova à exaustão o percurso deste atacante, Mohammed Mogouchkov de seu nome.  Tem 20 anos. Nasceu da Rússia. É de origem chechena. Depois vai-se sabendo mais: Mohammed Mogouchkov já tinha sido interpelado pelas autoridades numa investigação de terrorismo. Era seguido pela polícia que conhecia a sua radicalização. Estava classificado como S, ou seja, pessoa que é um risco para a segurança.

Depois chegam mais elementos sobre Mohammed Mogouchkov: sabe-se que chegou a França em 2008; que o pai também está classificado como S, que um dos seus irmãos está preso por se ter envolvido numa tentativa de atentado e, não menos importante, constata-se que ele já não estaria em França caso as autoridades tivessem cumprido a lei em 2014.

A família de Mohammed Mogouchkov esteve para ser expulsa em 2014, mas no momento do embarque os pais de Mohammed Mogouchkov, acompanhados dos seus cinco filhos, recusaram entrar no avião que os levaria para a Rússia. Entretanto várias associações ditas de apoio aos imigrantes e refugiados surgem em campo a contestar a expulsão desta família, que diziam perfeitamente integrada. O ministro socialista Manuel Valls acaba a anular a ordem de expulsão. Só que a história da integração da família Mogouchkov no quotidiano francês não passou duma mentira em que provavelmente só os activistas das associações acreditaram ou quiseram fazer acreditar os demais:  quatro anos depois, 2018. O pai foi expulso por radicalização. Os irmãos e a mãe continuam a viver em França e a apoiar aqueles que pretendiam atentar contra a vida de cidadãos franceses.

Ao longo dos anos em que a família Mogouchkov, agora sem pai, vivia nos bairros públicos franceses e os seus filhos frequentavam escolas francesas, vários judeus daquele país tomavam a decisão de deixar a França e os fundamentalistas islâmicos impunham as suas regras em ruas e bairros. Como acontece a todos os radicais nas democracias que tanto abominam, também a família Mogouchkov soube tirar partido do estado social francês e da legislação francesa: em 2023, Mohammed Mogouchkov já não pode ser expulso. O professor Dominique Bernard, que ele assassinou quando se cumpriam três anos após um outro professor ter sido degolado ao mesmo grito de Allahu Akbar, vai ser evocado em cerimónias que elas mesmas se tornam um pretexto para mais insultos: só em 2021, um ano após o assassínio de Samuel Paty, registaram-se 98 incidentes nessas homenagens. Ou talvez já nem se ouse conceber grandes homenagens: a 14 de Outubro, um dia depois do assassínio de Dominique Bernard, o minuto de silêncio pedido em sua memória e das vítimas dos acontecimentos em Israel e Gaza não foi além dos 15 segundos tal o tumulto que se gerou no estádio.

Israel garante que vai fazer tudo para resgatar os seus 126 reféns. Quem vai fazer alguma coisa pelo 127º refém?

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