Sabe quando e onde foi descoberta a estrutura do DNA? Quando e onde foram lançados os primeiros programas de vacinação contra a poliomielite e a difteria?  Quando e onde nasceu o primeiro bébé proveta?

Estes foram alguns dos progressos médicos e científicos mais extraordinários alcançados no Reino Unido no âmbito do Serviço Nacional de Saúde ao longo dos seus 70 anos de existência.  O nosso “NHS” (National Health Service) é uma das coisas que nós britânicos mais acarinhamos e de que nos orgulhamos. A comemoração do seu 70º aniversário esta semana é uma ocasião para olharmos para o que foi alcançado e para perspectivarmos o seu futuro.

O NHS é o maior sistema de saúde integrado do mundo, universal e gratuito para todos os que precisam de cuidados médicos. Trata mais de um milhão de doentes em cada 36 horas e realiza mais de seis milhões de tratamentos de dia em ambulatório todos os anos.  Continua a ser considerado como o melhor sistema de saúde no mundo pelo Commonwealth Fund dos Estados Unidos, em parte devido ao recurso a soluções inovadoras para prestar cuidados de saúde da melhor qualidade.

O NHS nasceu depois da 2ª Guerra Mundial. Houve um período na política britânica a que hoje chamamos “consenso do pós-guerra”, em que os maiores partidos políticos acordaram quanto às principais prioridades do país, e dum modo geral colaboraram no sentido de as concretizar. Uma das prioridades era o bem-estar das populações.

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Lançado pelo então ministro da Saúde Aneurin Bevan a 5 de Julho de 1948, o NHS foi criado a partir do ideal de que todas as pessoas deviam ter acesso a bons cuidados de saúde, independentemente dos seus recursos. Tinha por base três princípios fundamentais: atender às necessidades de todos; ser gratuito no ponto da prestação; e ter por base a necessidade clínica, e não a capacidade para pagar os tratamentos. Estes três princípios mantêm-se válidos hoje-em-dia.

Foi o primeiro sistema de saúde a oferecer cuidados médicos gratuitos a toda a população em caso de necessidade – financiado pelos impostos e não baseado no princípio do seguro em que os direitos dependem das contribuições. Foi planeado como uma estrutura em três níveis, pensados para interagirem entre si em benefício do doente: hospitais; médicos de família, dentistas, oftalmologistas e farmacêuticos; e serviços de saúde a nível local.

Entre os marcos históricos do NHS incluem-se a ligação entre o consumo de tabaco e o cancro estabelecida em 1954; a primeira operação de substituição da anca realizada em 1962; as tomografias que em 1972 vieram revolucionar a forma como os médicos examinavam o corpo humano; em 1979 o primeiro transplante de medula óssea bem sucedido numa criança; em 1987 o primeiro transplante de coração, pulmão e fígado; em 2002 a primeira terapia genética bem sucedida; e a introdução do braço robótico dá origem a inovadoras operações ao coração em 2007.  Mas também, como acima referido, a descoberta da estrutura do DNA em 1953, os primeiros programas de vacinação contra a poliomielite e a difteria em 1958, e o primeiro bébé proveta em 1978.

Hoje, o NHS procura estar à altura do desafio do crescimento e envelhecimento da população, que representam uma pressão maior do que nunca sobre o sistema. Só em Inglaterra, a população cresceu cerca de 17 milhões desde que o NHS foi criado. No momento em que comemora os seus 70 anos, debatem-se planos para lidar com essa pressão e assegurar que esteja apto para enfrentar os desafios futuros. As principais prioridades incluem facilitar o acesso ao médico de clínica geral a nivel local, melhorar o diagnóstico de cancro e o tratamento rápido, e assegurar que os serviços de saúde mental e cuidados urgentes estejam disponíveis sempre que necessários. Mas o futuro passa também pelo recurso a robôs cirúrgicos sofisticados e pela garantia de consultas médicas em tempo real. Prevemos a utilização de tecnologia baseada na “nuvem” e inteligência artificial para analisar imagens de raios-x; a recolha de dados de doentes através de métodos sem fios; tratamentos ajustados ao ADN de cada pessoa; ou cirúrgias conduzidas virtualmente a partir de locais remotos.

Todos os impressionantes progressos alcançados pelo nosso NHS no passado só foram possíveis graças ao contributo de profissionais de saúde vindos de todo o mundo, incluindo muitos portugueses.  Actualmente os portugueses são um dos principais grupos de enfermeiros não britânicos a trabalharem no NHS.  Recordo aqui um dos momentos mais emocionantes que passei ao longo do meu mandato como Embaixadora Britânica em Portugal, quando conheci pessoalmente Carlos Pinto – o enfermeiro português a trabalhar em Londres que salvou a vida de uma das vítimas do atentado terrorista em Junho do ano passado.  Um exemplo de enorme coragem e profissionalismo que deve ser enaltecido.

Com uma conjugação inigualável de conhecimentos especializados e experiência nas áreas clínica, tecnológica e académica, o NHS está numa posição ideal para desempenhar um papel significativo na transformação dos cuidados de saúde a nível mundial.  No passado contámos com o talento e o profissionalismo dos portugueses.  Esperamos contar também com eles no futuro.