Enquanto colunista, sou obviamente parcial na minha opinião, mas não poderia ainda assim deixar passar o primeiro aniversário do Observador sem assinalar o que me parece ser a importância de tudo o que foi possível atingir neste seu primeiro ano de vida. Num contexto mediático e cultural como o português – caracterizado por uma quase hegemonia do pensamento politicamente correcto e dirigista nas suas várias expressões – lançar um projecto com a filosofia e objectivos do Observador é uma aposta de elevado risco. Mas é precisamente esse contexto profundamente hostil e quase monista que faz com que o Observador seja um projecto particularmente importante na realidade portuguesa.

Para efeitos de enquadramento, vale a pena recordar alguns dos princípios orientadores que constam no estatuto editorial do Observador:

“O Observador não perfilha qualquer programa político mas tem um olhar sobre o país e sobre o mundo.
O Observador assume os princípios fundadores da Civilização Ocidental, derivados da antiguidade greco-romana do Cristianismo e do Iluminismo.
O Observador orienta-se pelo princípio da dignidade da pessoa humana e pelos valores da democracia, da liberdade e do pluralismo.
O Observador vê com cepticismo as utopias dirigistas e prefere as mudanças graduais, susceptíveis de teste e de correcção.
O Observador coloca a liberdade no centro das suas preocupações e defende uma sociedade aberta, com instituições respeitadoras da lei e dos direitos individuais.”

Noutros países europeus, onde o pluralismo na comunicação social é uma realidade com alicerces mais sólidos, como Espanha ou o Reino Unido, o Observador não enfrentaria um desafio tão grande, mas também não proporcionaria um contributo tão valioso como o que tem concretizado em Portugal. Contributo esse que assume a natureza de genuíno serviço público com alcance transversal, já que a tutela moralista do pensamento politicamente correcto e a falta de pluralismo são más também para os seus próprios praticantes, nos quais a quase hegemonia no espaço público fomenta a preguiça intelectual e atrofia o raciocínio e o espírito crítico.

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Não sei quantos mais aniversários comemorará o Observador, da mesma forma que não sei quantos mais anos durarão o Público ou o Expresso, mas sei o que este ano já provou: que é possível levar a cabo em Portugal um projecto no domínio da comunicação social norteado pelos valores da liberdade com rigor, qualidade e consistência. Mais, que esse projecto encontra rapidamente acolhimento num vasto segmento de portugueses que cada vez menos se revê e identifica no paradigma mediático dominante do politicamente correcto e de uma pretensa superioridade moral das ideologias intervencionistas.

A minha admiração pelo sucesso do Observador não obsta, naturalmente, a que discorde de muitas das opiniões publicadas ou a que ache que há aspectos a melhorar. Por exemplo, pessoalmente acho que a cobertura quotidiana de assuntos económicos e de desporto tem uma margem substancial para melhorias. Assim como lamento que ocasionalmente algumas peças noticiosas do Observador padeçam de alguns dos mesmos vícios que afectam a generalidade da comunicação social em Portugal. Mas, comparados com o valor acrescentado que o Observador trouxe ao país no último ano, estes são reparos relativamente menores. Estou por isso orgulhoso por ter tido a possibilidade de contribuir, ainda que modestamente, para o sucesso deste primeiro ano e faço votos de que seja o primeiro de muitos aniversários desejando, acima de tudo, que o Observador seja capaz de se manter fiel ao rumo e objectivos inicialmente traçados.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa