A morte recente de João Ricardo, Pedro Rolo Duarte, Zé Pedro e Belmiro de Azevedo tiveram unanimidade de sentimentos (com excepção para os deputados PCP, mas esse episódio fica guardado nos tesourinhos deprimentes): foram perdas para as suas famílias mas também para o País. Eram, cada um à sua maneira e por razões muito diferentes, um pouco de todos nós. Pela irreverência, pela ousadia, pelo empreendedorismo, pelo talento, ou por muitas outras razões, foram importantes para nós. Ao ler os testemunhos publicados, as referências são sempre sobre o valor das suas vidas, que deviam ter vivido mais, que fazem falta.
Entre as várias publicações dos próprios ou de outros referindo-se aos que morreram, feitas nas redes sociais ou em entrevistas, li muitos elogios sentidos e merecidos de onde destaquei algumas frases que já explico porquê:
Disse João Ricardo: A vida sempre me tirou o que tinha a tirar na altura certa e deu o que tinha a dar na altura certa. Já não tive nada, hoje tenho tudo”.
Sobre o Zé Pedro: Viveu e morreu como uma rock star, depressa demais.
Sobre o Pedro Rolo Duarte, escreveu o Miguel Esteves Cardoso: A verdade – aquela que, com unhas e dentes, ninguém nos tira – é que fizemos, singularmente, muita coisa juntos. Mas não te aconchegues: ainda falta muita coisa.
Acerca de Belmiro de Azevedo disse Rui Nabeiro que foi “com muita tristeza” e com “um grande abalo” que recebeu a notícia da morte de Belmiro de Azevedo, sublinhando que era “um homem extraordinário, que lutou e que soube lutar”.
Por que razão seleccionei estes excertos?
É que todos dizem respeito a pessoas queridas, que se encontravam em sofrimento, que tinham uma doença que era uma sentença de morte. Mas os seus amigos queriam-nos vivos. Os amigos achavam que eles ainda tinham vivido pouco, que apesar do seu sofrimento presente não deviam partir. O próprio João Ricardo a sofrer na sua doença disse de si mesmo “já não tive nada, hoje tenho tudo”.
Todos nós vamos morrer um dia. Muitos de nós tememos que seja com dor ou com incapacidade, mas todos queremos viver. Aquilo que nos aflige julgo ser o receio de sermos pesados à família por perdermos a autonomia ou a sanidade mental, receamos não ser bem tratados, sobrarmos nesta vida.
Mas se nos prometerem que isso não acontece, TODOS queremos viver até ao fim natural da nossa vida e desejamos que um dia digam de nós, que morremos “depressa demais”.
Então para quê a eutanásia? Não a queremos, a não ser por medo. E não é preciso meter medo a ninguém porque não é preciso ser abandonado nem desprezado. Hoje em dia existem cuidados paliativos, tratamento da dor, cuidados continuados, acompanhamento no lar, apoio aos cuidadores informais (a família) enfim uma série de soluções que nos permitem viver sem medo. Então o que queremos é ver essas soluções implementadas.
É para isso que queremos que usem os nossos impostos, e não para investirem na nossa morte.
Que bom que de todos estes nossos compatriotas que morreram recentemente não se possa dizer que os matámos mas sim que viveram pouco!