O PAN, Partido Pessoas-Animais-Natureza como, actualmente, é designado, tem merecido uma  atenção crescente pela Comunicação Social e, como sempre acontece nestes casos, tem como consequência a influência inerente nas sondagens, que são abundantes nestas fases pré-eleitorais.

Fazendo um pouco de história, recorrendo para ajuda de memória à Wikipédia, temos que este Partido foi fundado em 22 de Maio de 2009 sob o nome Partido pelos Animais (PPA) mas foi inscrito oficialmente em 13 de Janeiro de 2011 no Tribunal Constitucional, pelo Acórdão nº 27/2011, sob a designação de Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN). ou seja, por uma qualquer razão alterou o seu nome mais de um ano e meio depois de ter sido fundado.

No que se refere a Líderes, também houve alterações com o seu fundador a estar à frente do Partido até ser substituído por André Silva.

No seu III Congresso, realizado a 12 e 13 de Abril de 2014 em Lisboa, o partido decidiu alterar o nome para Pessoas-Animais-Natureza, alteração que foi aceite pelo Tribunal Constitucional a 18 de Setembro de 2014.

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Constata-se assim, que o nome do Partido foi alterado três vezes em apenas 5 anos, sendo de salientar que a introdução da referência a “Pessoas”, apenas surge em 2014.

No que se refere a votantes, os resultados são intrigantes dado que em 2011, as primeiras eleições a que se candidataram, com a referência apenas a Animais e Natureza, obtiveram 57 995 votos sendo, a nível nacional, a sétima força política mais votada. Este resultado não permitiu a eleição de qualquer deputado para a Assembleia da República.

Nas eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira em 2011 obteve 2,13% dos votos elegendo o seu primeiro deputado regonal, Rui Almeida.

Nas eleições legislativas de 2015, o PAN foi a quinta força política mais votada (excluindo a candidatura do PSD no Círculo Eleitoral da Madeira), obtendo 75 140 votos e elegendo um deputado por Lisboa (André Silva).

Foi assim o primeiro novo partido na Assembleia da República desde que o então recém-formado Bloco de Esquerda elegeu dois deputados nas eleições de 1999.

Feito o enquadramento histórico, sempre útil, olhando agora de uma forma objectiva para a evolução da votação constata-se que, curiosamente, enquanto a denominação não incluía “ Pessoas” e, como os animais ( que se saiba ) não votam, o PAN teve 58 mil votos.

Quando passou a incluir “Pessoas”, na realidade quem vota, obteve um pouco mais de 75 mil votos e, até, elegeu um deputado por Lisboa. Na realidade, apenas 19 mil votos de diferença em três anos. Serão inúmeras as razões pelas quais, as finalmente mencionadas Pessoas decidiram votar no PAN.

Ora, as eleições de 2015 foram as tais que ditaram uma nova fase da vida política em Portugal com a originalidade, embora possível e legal, do partido mais votado (PSD) não vir a constituir governo. Para tal facto, contribuiu decisivamente a moção de rejeição apresentada nas primeiras semanas da nova legislatura.

Este é o ponto crucial do PAN, ou seja, chegado há apenas algumas semanas ao Parlamento o seu Líder e Deputado , supostamente com uma agenda própria e independente dos posicionamentos habituais, não hesitou em votar ao lado da denominada Esquerda e contribuir para a solução da denominada “ Geringonça”.

Sentindo-se legitimado pelos seus votantes, ou seja, pessoas que defendem os animais e a natureza, considerou que tais valores não eram defendidos nem pelo PSD, nem pelo CDS. Ou seja, dado que a natureza não vota, teremos de considerar – foi o que entendeu o Engº André Silva – que os Animais são de Esquerda !

Pela Natureza, já temos há alguns anos o denominado integrante da CDU que dá pelas siglas de PEV, com três deputados, mas com reduzida actividade, sendo difícil de referir os nomes desses deputados e as intervenções e propostas realizadas em defesa da Natureza.

Pura coincidência… pelos vistos, a Natureza também é de Esquerda !

Voltando ao PAN — do seu deputado todas as “Pessoas” conhecem o nome — foi dado o mote naquela votação que foi decisiva para o formato da legislatura que agora está a terminar. Assim, ficou claro que quem vota no PAN e nos seus eleitos, está a votar “ à esquerda”.

De facto, o PAN deveria chamar-se – em reverso – ANP Animais-Natureza-Pessoas.

No seu Programa de 2015 considerou, como prioritário, repensar o conceito de “Pessoa”… Em seguida adoptou, para os animais, o conceito de…”Animal não humano”. Por último, lutou pela existência de um terceiro tipo de “ Pessoas”. A par destas referências há que destacar uma das exigências mais estranhas que é a de incluir os animais no agregado familiar. Aqui chegados, temos que equacionar se é idêntico uma idosa com dez gatos ou um casal com nove filhos.

Por outro lado, temos que analisar o que se passou em 2015 quando a votação foi de cerca de 75 mil votos, face a 2011, quando recolheu 56 mil votos. Para esse total contribuíram decisivamente três áreas, ou seja, Lisboa, com 23 mil votantes ( foram 17 mil em 2011, Porto onde foram 15 mil ( tinham sido 9 mil, em 2011 )e Setúbal que de 6 mil , em 2011, passou para 8 mil em 2015.

Ora, numa perspectiva sobre o País real, o que encontramos é uma concentração de votos nas zonas mais urbanizadas , mesmo proporcionalmente ao total de votantes, donde se pode concluir, sem grandes dúvidas, que os votantes que se revêm no PAN nomeadamente nas vertentes de “Animais” e “Natureza” serão, ironicamente, as “ Pessoas” que menos têm contactos com a Natureza.

Dir-me-ão: e os animais?

Temos de ser directos e falar sem condicionantes deste assunto. Os animais em causa são a “elite urbana”, ou seja, os cães e os gatos? É que se formos a tratar deste aspecto temos que se chegar à triste conclusão que se tratam de animais que estão, muito provavelmente a maioria, em regime de cativeiro, empacotados em andares e fracções diversas, com autorização para uma ou duas saídas diárias, e que apenas servem, na sua grande maioria, para entretém dos seus donos. Parte destes, nem levam os animais para férias, depositando-os em canis.

Tudo isto, em relação aos cães, porque os gatos, como sabemos, nem saem de casa. Para já não falar de pássaros (enjaulados), peixes (dentro de aquários minúsculos e muitas vezes…sozinhos) e outros animais de diversa espécie, proveniência e dimensão. Alguém do PAN sabe o que pensam os animais acerca desta realidade? Serão felizes ?

Contrariamente a esta realidade, para o dito Portugal Interior, as elites urbanas tentam entender e “defender” os animais e a natureza, quando essa parte importante de Portugal tem uma relação com parte importante dos seus animais, nomeadamente cães, ao ar livre.

Para já não falar da relação com a natureza, que os ditos “rurais” têm e com a qual convivem diariamente e não se limitam, como os “urbanos” , a ter uns vazinhos com umas flores nas varandas ou plantas (muitas delas no interior das casas). Ora, a votação pouco relevante no PAN do dito Portugal profundo é com certeza falta de informação e cultura . Esse pensamento de “superioridade” é típico de elites urbanas.

Voltando ao posicionamento político do PAN, já pudemos ver quais foram as suas posições ao longo da presente legislatura. Quanto a Orçamentos temos que, no primeiro, se absteve e, em seguida, votou favoravelmente os restantes três. Por aqui, estamos conversados.

Mas, aprofundando, vamos às propostas apresentadas no Parlamento e a posição do PAN, em termos percentuais, face aos restantes partidos. Com o PSD, a concordância foi de 52%, com o CDS foi de 55% e com o PS de 60%. Já com o PCP, essa concordância foi de 68%, com o PEV de 72% e com o BE foram 74 %. É elucidativo!

Refira-se, em abono da verdade, que nas eleições europeias deste ano, o PAN obteve 160 mil votos e elegeu um deputado que integrou, no Parlamento Europeu, o grupo dos Verdes. Foi grande o entusiasmo da Comunicação Social, e do Partido (o que é natural), com o facto de terem triplicado o número de votantes face às anteriores eleições. Estranhamente, nas recentes eleições na Madeira, não vimos o mesmo empenho em destacar o facto de o PAN, que tinha eleito o seu primeiro deputado exactamente na Madeira, não ter ido além de 1,46% dos votos expressos, não elegendo, obviamente, nenhum deputado.

De igual modo o entusiasmo da Comunicação Social com o BE (referido repetidamente nos últimos tempos pelo Dr. Costa) não se evidenciou nas mesmas eleições na Madeira quando se constatou que o BE baixou a sua votação drasticamente, perdendo os seus dois deputados. Já agora, e “a talhe de foice”, a CDU desceu também de dois para um deputado, aliás o último a ser apurado, e ao que parece, por uns escassos sete votos. Mas esses… são outros quinhentos .

Concluindo, no que se refere ao PAN, o que temos de reter é que a sua génese e denominação não revela, em nada, que se situa – e vota — à esquerda.

A sua actividade e comportamento revelam que o entendimento que o PAN tem do seu eleitorado é a de que – não sabendo nós o que pensa a Natureza – os Animais são de Esquerda e que é a Esquerda que os defende.

Ah… e as “Pessoas “ ?

Parece que o PAN , ou diria ANP (Animais-Natureza-Pessoas), coloca as preocupações com as Pessoas, estranhamente, em último lugar.

Aliás, a Catarina Martins do BE já referiu, por diversas vezes, desconhecer o que o PAN pensa em assuntos fundamentais como seja, por exemplo, a lei laboral. Não é original, mas é importante ter em atenção que o PAN defende a Eutanásia nas Pessoas mas não a defende nos Animais, nomeadamente cães. O que dirão os votantes do PAN do facto de muitos cães e gatos terem uma vida bem melhor do que muitos Humanos ?

Para finalizar, um Padre bem conhecido de uma Paróquia de Lisboa, referiu numa homilia a sua incredulidade perante o fenómeno de existirem, em muitos prédios, pessoas que cuidavam dos seus animais de estimação esmeradamente mas ignoravam, totalmente, as dificuldades de toda a ordem de um vizinho ou vizinha, que vivessem sozinhos.