John Kenneth Galbraith dizia que a única função das previsões económicas é fazer a astrologia parecer respeitável.
Mas pensar que o trabalho de um economista é apenas o de fazer previsões é no mínimo redutor. A economia trata de compreender a ação humana, nos seus desejos, capacidades e limitações, com a ajuda de métodos científicos. A Economia não tem a certeza das ciências exatas, mas vive com o permanente desafio da compreensão do ser humano e da sociedade.
Os economistas falharam muitas vezes, por exemplo, recentemente, na antecipação da grande crise de 2008. No entanto, desde os primórdios da disciplina, têm dado contributos inestimáveis para entender o comportamento dos indivíduos e da sociedade e têm servido de apoio a decisões políticas que procuraram ajudar as populações. Exemplo disso é a lista de economistas premiados desde 1968 com o Prémio do Banco Nacional da Suécia em memória de Alfred Nobel, cujo vencedor de 2021 é anunciado amanhã. Para dar apenas alguns exemplos do passado, Amartya Sen ganhou o prémio pelo seu trabalho para combater a pobreza, Hayek, porque defendeu a liberdade económica como pilar da liberdade humana, Becker, porque usou a microeconomia para explicar o comportamento dos indivíduos em todas as esferas da sua vida pessoal, Douglass North, porque estudou a importância das instituições para o desenvolvimento económico.
Entre os meus favoritos encontra-se uma de apenas duas mulheres da lista, Elinor Ostrom, que deitou por terra várias ideias sobre a natureza conflituosa do ser humano, defendida, por exemplo, por Hobbes no seu livro Leviatã, ou pelas teorias da sociobiologia que privilegiam a competição entre indivíduos. Ostrom demonstrou que quando os recursos naturais são utilizados em conjunto por um grupo de pessoas, em vez de os esgotarem, conduzem com tempo ao estabelecimento de regras sobre como esses bens devem ser cuidados e utilizados de forma económica e ecologicamente sustentável.
Mas para melhor responder aos desafios que surgiram ou foram acelerados pela pandemia, os próprios economistas terão de se adaptar. É importante atrair mais pessoas com experiências de vida e competências diferentes. Desde logo, a Economia atrai muito poucas mulheres, quando comparada com outras disciplinas. Por exemplo, segundo um estudo da American Economic Association, as mulheres representam menos de um terço dos doutoramentos em economia, pouco mais de 40% dos doutoramentos em Gestão e Finanças e abaixo dos 56% nas áreas STEM (Ciência, Matemática, Tecnologia e Engenharia). Em Portugal, na Ordem dos Economistas apenas um terço dos inscritos são mulheres.
Os tempos que aí vêm exigem também um maior esforço de cooperação com outras disciplinas. Por exemplo porque é que o salto gigante na tecnologia e na digitalização não é acompanhada por igual evolução da produtividade? Que fenómenos económicos, demográficos, políticos e sociais explicam o desencanto com a globalização, que tirou tanta gente da pobreza? Como é que a política comercial serve os interesses de defesa das nações? Como é que podemos minorar a desigualdade que esta pandemia intensificou? Para todos estes problemas precisamos de análises interdisciplinares. O prémio atribuído a Elinor Ostrom já revelava a importância da interdisciplinaridade, neste caso concreto a ligação entre Economia e políticas públicas. Outro exemplo conhecido é o de John Nash, matemático, que ganhou o prémio na área de Economia pelo seu trabalho na sobre os jogos não cooperativos.
O caminho para o futuro da Economia e dos economistas passa necessariamente por uma ainda maior diversidade e interdisciplinaridade.
O projeto para a Ordem dos Economistas de um grupo ao qual pertenço, liderado pelo Pedro Reis, tem a ambição de ajudar a muito necessária transformação da economia portuguesa, apoiada nos contributos dos nossos economistas e gestores. É um projeto de abertura, de inclusão, de incentivo à participação de economistas, homens e mulheres, jovens e menos jovens, em análises, formação e debates junto do setor público e privado.
O objetivo é o mesmo que tem atravessado estes quase 250 anos de Economia: melhor compreender, e servir, a sociedade.