Não gosto de generalizações. A toda regra cabe uma bela porção de exceções. Mas, por vezes, as experiências são tão insistentes que somos vencidos pela visão parcial. Não tem jeito, eu já desisti de lutar dentro da minha cabeça para não generalizar os taxistas lisboetas, uma vez que eles mesmos me contaminam a cada viagem.
Eu realmente não sei a que se deve esse fenômeno. Quero acreditar nas boas- e tão raras- exceções. E também sei que os taxistas do Rio de Janeiro não ficam muito atrás dos de Lisboa no quesito mau atendimento. Em São Paulo não sofremos tanto. Fico curiosa para saber como correm as coisas no Porto ou em Coimbra. Mas sei que em Lisboa, de fato, algumas viagens de táxi beiram o surreal.
É fácil listar uma dezena de aborrecimentos frequentes: a direção imprudente, impaciente e inconsequente; a falta de troco para uma simples nota de 10 euros; os carros descuidados, tão saudosos de uma lavagem; as brigas e xingamentos no trânsito como se nós simplesmente não estivéssemos dentro do carro; as reclamações para fazer uma viagem curta; os caminhos mais longos para que a corrida saia mais cara, ou ainda, pura e simplesmente, a total ausência de gentileza.
Lembro-me de episódios como o do taxista que me levou, carregada e com uma criança num dia de chuva até a minha casa e, quando lhe pedi parar em frente à garagem para que tomássemos menos chuva, ele disse que “não lhe dava jeito” pois depois seguiria direção oposta. Ou o do taxista que se negou a diminuir o ar condicionado gelado em novembro, quando me queixei de frio. Ou o do taxista que deu um soco no volante quando eu disse que faria uma corrida curta (e estava frio, e eu estava sozinha, e era de noite).
Eu honestamente não entendo o que acontece. Os portugueses costumam ser amáveis e receber bem as pessoas, mas permitiu-se que as coisas fossem diametralmente opostas dentro dos táxis. É um mundo sem regras de boa educação, de segurança, de asseio e de boa prestação de serviço. Os taxistas de Lisboa julgam que o carro é a casa deles, onde reinam suas próprias regras e não um meio de transporte sujeito a normas não apenas de tarifa, mas também de boa conduta.
Em São Paulo, eu frequentemente prefiro usar táxi a usar Uber. Gosto da experiência dos taxistas, que conhecem bem a cidade, bem como sabem caminhos que aplicativo nenhum indica. Mas em Lisboa, eu percebo preferir qualquer coisa em oposição ao táxi. Autocarro, metro, caminhada, uber, realmente qualquer coisa. Nas raras ocasiões em que acabo por pegar um táxi, costumo me lembrar o porquê de eu ter me prometido que não pegaria mais nenhum.
Tenho consciência de que há exceções. Poucas, mas há. E espero realmente que estes poucos bons taxistas sejam os primeiros a hastear uma bandeira de mudança. Os passageiros precisam se opor. Precisam dizer tudo o que está errado, reclamar de tudo o que não vai bem. Eles não podem achar que este jogo está ganho. De fato, o uber só tem espaço num ambiente no qual concorre com um mau serviço. Se houvessem táxis excelentes, não haveria espaço para serviços alternativos.
Em tempos nos quais Portugal é um dos principais destinos turísticos da Europa, não é aceitável sujeitar milhares de visitantes a estas experiências. Na verdade, ninguém deveria se aborrecer por um serviço pelo qual está pagando. Esse serviço não tem nada a ver com Lisboa. Lisboa é uma cidade linda, alegre e acolhedora. Seus táxis não podem ser o oposto disso.