No fio da navalha. Imersos nas nossas vidas do dia-a-dia nem nos damos conta, mas é assim que o país vive: sem que se dê conta, no fio da navalha. Pior que isso: convencido que  é o paraíso na Terra, enganado relativamente à dívida pública, ao preço do excedente orçamental que o governo espera conseguir à custa de cativações na saúde, à custa de um Estado Social decadente apesar dos altíssimos impostos que, parte do país, efectivamente paga. Apesar de não haver margem para um tropeção, uma derrapagem. Uma imagem dessa indiferença é a quase agressão do primeiro-ministro a um idoso não ter tido consequências eleitorais. Se para a maioria do país é indiferente o que um primeiro-ministro ameaça fazer a um idoso, um elemento frágil da sociedade, por que motivo se indignará com as crianças que não recebem os tratamentos adequados nos hospitais?

A indiferença medra porque essa maioria perde o que lhe resta se exercer o seu direito à indignação. Longe vão os tempos de Mário Soares em que a indignação não apresentava custos sociais. Medra porque a esquerda está em crise, perdeu causas, não apresenta qualquer destino para o país, vive de enganos, ilusões e sorte. Ironia das ironias, até o seu sucesso é uma ilusão. Mas medra acima de tudo pois a direita (apesar de nos dia de hoje ser intelectualmente mais bem preparada que a esquerda) não se entende.

Este é, aliás, o primeiro desafio da direita política portuguesa. Entender-se, agregar-se, coligar-se, fundir-se num só partido, apresentar um só programa político abrangente e coerente. Desde que António Costa fintou o resultado das legislativas de 2015 que se tornou óbvio que a direita só regressa ao governo se se unir. Tive oportunidade de escrever precisamente isso a 7 de Outubro de 2015, logo após o resultado eleitoral e quando se antevia uma união das esquerdas para impedir a direita de governar.

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