…a minha Agenda, a minha Agenda la, la, la, la, la… Punha-me logo em riste, mal ouvia o jingle da “A Minha Agenda” da RTP e era certo e sabido que com isso estava para mim oficialmente aberta a época natalícia. Seguir meticulosamente o calendário do advento de chocolate, escrever a carta ao Pai Natal com “os discos pedidos”, procurar o musgo mais fofo e verdinho para o Presépio, vigiar a gata para esta não roubar o bacalhau de molho, ter cuidado com a série de luzes que fundia ao mínimo toque numa das lâmpadas e assistir ao Natal dos Hospitais faziam parte das rotinas da contagem decrescente para a época festiva mas “A Minha Agenda” deslumbrava-me sem igual. A ideia de ter uma perseguia-me, o que é realmente estranho pois as crianças não são particularmente conhecidas pelas suas competências de planeamento, sistematização e de gestão de prioridades para que uma agenda criasse tal efeito. Mas que era um sucesso, era, ainda que o que lá podia registar fosse comparável à dimensão de hastags ou de tweets minimalistas. Visionários!

A utilização de agendas (ou seus sucedâneos em formato de aplicações informáticas) tem uma efectiva utilidade para a concretização de objectivos, já que o compromisso e o envolvimento com os mesmos aumentam quando os decompomos em etapas e definimos os momentos temporais para a sua operacionalização, monitorizando o seu cumprimento.

Os Psicólogos são os profissionais especialistas em mudança de comportamento, aplicando o conhecimento da ciência psicológica para facilitar, manter ou avaliar essa mudança. São conhecidas as limitações das estratégias estritamente baseadas em informação pelo que adiantará de pouco ou quase nada, por exemplo no caso de utilização de agendas, alertar para os seus benefícios esperando com isso promover a sua utilização. É de senso comum que “só muda quem quer” e a procura de ajuda especializada é um excelente indício da motivação necessária para iniciar um processo de mudança. Se o Governo fosse uma pessoa seria de equacionar a possibilidade de ter ajuda profissional de um/a Psicólogo/a para realizar as mudanças necessárias (e desejadas?). Nesse caso, e se pudesse sugerir de antemão ao Governo em que mudanças se envolver, propunha certamente a alteração de paradigma do tratamento e da remediação para o da prevenção, contribuindo assim para a sustentabilidade dos sistemas e para o bem-estar geral. Não é uma utopia de criança, a ideia de uma sociedade mais justa e mais coesa. Temos já o conhecimento de como o fazer, mas para muitos decisores continua a ser como aquela informação que não é suficiente para mudar comportamentos (como a agenda que compramos mas que não usamos). Falta a sobejamente conhecida “vontade política”! Fazendo o paralelo com as fases da mudança, o Governo situar-se-ia na etapa de contemplação, em que existe já a consciência de que existe um problema, mas ainda não está preparado ou sequer tem a certeza de querer mudar.

Quem nos dera que o Governo quisesse para o Natal uma agenda da prevenção e desenvolvimento das pessoas, do tipo “A Minha Agenda” ou outra. Mas que fosse, de facto uma agenda para os Portugueses e para o país e não uma agenda para as eleições. Melhor ainda: que os diferentes Partidos prometessem menos e se comprometessem mais com essa agenda. Porque pedir não custa… e já agora, que aplicassem o que as boas-práticas indicam para se ser eficaz no atingir de objectivos ao invés de exercícios para empatar. É que com o ano novo à porta dava mesmo jeito alguma esperança nos tempos que se avizinham. É desta, é desta! Em 2019 é que vai ser!

Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira

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