Depois de a Comissão Europeia ter recomendado, os Chefes de Estado e de Governo vão, esta semana, decidir se a Ucrânia deve ou não ser considerado um país candidato à adesão à União Europeia. Para responder a essa pergunta, mais do que no relatório favorável da Comissão Europeia, que importa, deviam pensar em para que serve a Europa.

Quando nasceu, como Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1949, e com o Tratado de Roma, em 1957, os europeus uniam-se e procuravam um projecto comum para não voltarem a combater entre si. Depois da paz veio a economia e prosperidade e, para alguns, a democracia também. Portugal, por exemplo, aderiu para garantir que não se tornava num satélite soviético no extremo ocidental da Europa. E para alimentar a prosperidade económica com fundos europeus. Outros juntaram-se por distintas razões. A Finlândia e a Suécia para marcar a sua escolha ocidental, quando a Guerra Fria acabou e não queriam, então, aderir à NATO. E os países do Bloco de Leste juntaram-se porque a Europa era o destino para as suas ambições de democracia, liberdade e economia de mercado.

Antes do grande alargamento de 2004, dentro da Europa discutia-se se era melhor alargar primeiro e aprofundar (federalizar) depois ou fazer ao contrário. Na prática, fizeram-se ambas as coisas. Antes da entrada de 10 países da antiga Europa de Leste, e de Malta e Chipre, fez-se o Tratado de Maastricht, que lançou muitas das regras mais federalistas do que é a União Europeia actualmente. Mas só se tentou a Constituição Europeia, que falhou, depois.

Em 2022 estamos de novo à volta com essa discussão sobre alargamento e aprofundamento, a que acrescem outras duas. Será que a Europa aguenta alargar-se sem mudar de regras, nomeadamente as que obrigam a decidir política externa ou fiscal por unanimidade? Será que estes países estão de facto preparados, ou mais tarde ou mais cedo vão ser problemas como a Polónia e a Hungria? E, coisa não dita mas pensada, será que os países mais ocidentais querem ver a Europa alargar-se para Oriente, ficando geograficamente menos ocidental?

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Todas estas perguntas são razoáveis, mas não são as mais importantes. Em 2022, ao contrário do que se passou nas últimas décadas desde o alargamento de 2004, o mundo está a refazer-se. E não é para melhor. Em 2022, quando há um arrefecimento, ou mesmo retrocesso, da globalização, uma expectativa de regressar a um mundo de blocos e maior agressividade russa (não que a Rússia não tenha já sido agressiva quando atacou a Geórgia, ocupou a Crimeia, apoiou os separatistas na Ucrânia ou andou tranquilamente a envenenar cidadãos seus nas cidades europeias), qual é a grande escolha que a Europa deve fazer? Essa é a pergunta que conta.

Quando o mundo parece encaminhar-se para regressar a uma lógica de blocos, o eixo da política internacional se desloca para o Indo-pacífico e o poder se mede em peso e influência económica, a União Europeia prefere ser um clube restrito, rico (mas não todos da mesma maneira) e da Europa Ocidental? Ou quer ser o grande actor regional, e um peso pesado no mundo global?

Se a União Europeia retomar a lógica dos alargamentos, decide-se pela opção geopolítica. Ser maior, mais forte e mais influente. Se decidir não alargar muito mais, escolhe ser mais integrada, cada vez mais federal, mas menos regional e global.

Claro que os últimos anos levantaram dúvidas. A situação política em países como a Hungria ou a Polónia é um problema. Mas França e Itália também podem vir a ser, mais grave e eventualmente mais cedo do que esperamos.

Ao contrário das suas ideias de reformar os Tratados, obrigando a referendos que poderiam chumbar em vários países, começando por França, a sugestão de Macron de que a Europa pode criar outra organização política, menos integrada, mais intergovernamental e menos coesa, pode ser um caminho interessante. No início do século Romano Prodi falava em “tudo menos as Instituições” para alguns países vizinhos. Macron sugere uma comunidade política. É uma ideia em que vale a pena pensar, se queremos que a União Europeia seja uma casa com regras comuns, e que a Europa seja um espaço economicamente forte e regional e globalmente influente.