A vitória de Pedro Nuno Santos na eleição para o cargo de Secretário-Geral do Partido Socialista era altamente previsível e, por isso, a vitória em 18 das 21 Federações do PS não apanhou ninguém de surpresa, a começar pelo seu principal adversário. Na realidade, José Luís Carneiro tinha a perfeita consciência de que partia numa situação de clara inferioridade, uma vez que não dispunha do tempo necessário para contrabalançar o longo período de pré-campanha de que Pedro Nuno Santos tinha beneficiado e que lhe tinha permitido angariar o apoio da maioria das estruturas do partido. Por isso, a candidatura de José Luís Carneiro representou um ato de coragem democrática. Um ativo passível de futura utilização.

Na verdade, se há algo surpreendente na vitória de Pedro Nuno Santos é apenas a percentagem com que foi eleito. De facto, 62% é um valor bastante inferior àquele que tinha sido obtido por António Costa face a António José Seguro e deste em relação a Francisco Assis. Um dado que dificilmente colhe junto do novo Secretário-Geral, tal a profusão de provas que indiciam o seu elevado autoconceito. Um valor que terá reflexos na sua autoestima, pois não lhe será fácil conviver com a circunstância de José Luís Carneiro ter obtido a mais elevada percentagem dos candidatos derrotados. Uma percentagem – 36% – que, de acordo com sondagens recentes, não se afasta grandemente daquela que é a intenção de voto no PS.

No entanto, mais do que um partido dividido, Pedro Nuno Santos recebe uma espécie de pizza quatro estações, tal a forma como o Partido Socialista esquartejou o ano de 2023. Uma situação a que Pedro Nuno Santos não é alheio.

De facto, em 2022, mais exatamente em julho, foi publicamente desautorizado por António Costa e viu-se obrigado a assumir publicamente as responsabilidades sobre o anúncio precipitado da localização do novo – velho no processo – aeroporto.  Porém, como no Governo de António Costa um mal nunca vinha só, mais tarde, em dezembro, Pedro Nuno Santos foi forçado a apresentar a demissão devido ao processo que envolveu a choruda indemnização recebida por Alexandra Reis.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ora, esta demissão teve clara repercussão na forma como o Governo começou o ano de 2023, ou seja, como um Governo de saldos e promoções, a condizer com a regra comercial de janeiro. O primeiro quarto da pizza estava confecionado e não permitiria saborear a Primavera, pois o segundo quarto não demoraria e teria como base o ministério de João Galamba, o sucessor de Pedro Nuno Santos. O famigerado «roubo» do computador de Frederico Pinheiro e a atuação do SIS constituíram os ingredientes, consentâneos com os casos e casinhos em que o Governo, por responsabilidade própria, se ia envolvendo. A temperatura do desagrado social subia acentuadamente, só que, desta vez, o Governo não podia assacar ao Verão qualquer culpa no processo. A exceção que confirma a regra.

A chegada do Outono, a tradicional estação da queda da folha caduca, seria ainda mais penosa, pois, na sequência da Operação Influencer, António Costa decidiu que era chegado o momento de o Governo replicar o exemplo das folhas. Estava completo o terceiro quarto da pizza, em tons de castanho-amarelado que talvez não tenham desaparecido com a eleição de Pedro Nuno Santos, o cozinheiro chamado a completar a obra que assume com orgulho.

De facto, malgrado os discursos de Carneiro e de Santos se enquadrarem no espírito da quadra, pois só o espírito natalício pode justificar o uso e abuso da palavra «unidade», não é garantido que, passado o Natal, a chegada do Novo Ano traga tranquilidade e sucesso ao Partido Socialista e ao seu nono líder.

O copo meio-vazio da vitória pedronunista pode não ser o melhor acompanhamento para a pizza quatro estações que acabou de ganhar. Tem a palavra Luís Montenegro, a título individual, e o PSD, em nome coletivo.

Os portugueses estão à espera. A regra da vida habitual!