Este fim-de-semana, faliram dois bancos nos Estados Unidos. O que temos a ver com isso? Tudo, infelizmente. Como diz a teoria do caos: “um bater de asas no Brasil pode gerar um furacão no Texas”. E um tsunami em Portugal, acrescento eu.
Em 2007, uma crise imobiliária nos Estados Unidos causou o colapso de um grande banco no país e esse foi o início de uma longa e triste história de que aqui em Portugal ainda não fomos capazes de virar a página. A crise financeira mundial apanhou o país estagnado e daí à bancarrota em 2011 foi um saltinho.
Não querendo ser pessimista, a verdade é que as notícias que nos chegam do outro lado do Atlântico deixam-me alarmada. E se uma nova crise financeira se abate sobre o mundo em pleno cenário de guerra na Europa, com a inflação em alta e uma crise de abastecimento mundial?
Corremos o risco de ser apanhados por um tsunami, entregues a um governo “requentado”, cansado e sem projeto. Como disse o Presidente da República “dança quem está na roda” e a roda não parece estar bem frequentada. Se em 2011 as condições do país eram más, agora tudo piorou um pouco: mais um ano letivo perdido (o terceiro), Serviço Nacional de Saúde a implodir sem solução à vista, cada vez mais portugueses sem dinheiro para comer, incapacidade de criar condições para pôr o país a produzir e a crescer.
O ministro das Finanças já veio apressar-se a dizer que Portugal e a Europa estão a salvo das falências americanas. Por favor, assustem-se, a última vez que ouvimos isto sabemos o que aconteceu.
A “roda” precisa urgentemente de quem possa reinventar a dança e esteja pronto para o fazer o mais rápido possível. O Primeiro-ministro e o Governo desistiram de pedalar a bicicleta e o risco de cairmos e nos magoarmos muito aumenta a cada dia que passa.
Se a tempestade se adensar, temo que não tenhamos tempo para acertar as aritméticas presidenciais. O país político tem que gerar uma alternativa que ao menos garanta que fazemos o trabalho de casa. Só assim podemos estar preparados para os abanões que nos chegam de fora.
Os amanhãs que cantam que nos foram anunciados no pós-Troika estão a mostrar os resultados. E o país está hoje muito pior do que estava em 2007. Esta é a triste realidade nacional depois de mais dezasseis anos perdidos.
PS: As notícias que nos chegam de lares espalhados pelo país levantam o véu de uma realidade que está muito mais disseminada do que julgamos. Pior do que nos termos deixado transformar num país de velhos é nem sequer sermos capazes de assegurar aos nossos pais um final de vida digno. Face aos tristes relatos que nos chegam ocasionalmente sobre a realidade nos lares espalhados por esse país fora, é urgente criar uma brigada específica para fiscalizar as instituições que acolhem idosos. Não podemos ficar à espera de denúncias que, para muitos, não chegam a tempo de lhes salvar a vida.