No final de Outubro, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) publicou o Relatório Anual referente aos Resíduos Urbanos do ano de 2020, e os resultados não poderiam ser mais decepcionantes, e no qual se constata que Portugal não cumpriu nenhuma das metas estabelecidas no Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2020).
De acordo com a APA, em Portugal continental 41% dos resíduos foram directamente para aterro, 21% para tratamento mecânico e biológico, 19% para valorização energética, 12% para valorização material, 5% para tratamento mecânico e 2% para valorização orgânica.
Já no que se refere ao destino final, constata-se que 60% dos resíduos tiveram como destino o aterro, um valor consideravelmente superior aos 41% apurados como de destino directo, o que significa que os resíduos encaminhados para outras formas de tratamento, acabam, como destino final, o aterro.
Relativamente à produção de resíduos per capita, verifica-se que a produção anual situa-se nos 512 kg/ano/hab, um valor muito acima da média europeia e ultrapassando em mais de 102 kg/ano/hab, a meta estabelecida no PERSU 2020.
A meta de preparação para reutilização e reciclagem de resíduos urbanos em 2020 implicaria uma taxa de reciclagem de 50 por cento (incluindo o papel, o cartão, o plástico, o vidro, o metal, a madeira e os resíduos urbanos biodegradáveis), mas foi de apenas de 38%. Simultaneamente a meta nacional de deposição de resíduos urbanos biodegradáveis em aterro deveria ter sido reduzida em 35%, em relação a 1995 (ano de referência) o que significa que teriam de ser depositados, em aterro, no máximo 788.452 toneladas, no entanto verifica-se foram depositadas 1.187.426 toneladas.
A lista de falhanços, no cumprimento das metas, segue-se consecutivamente ao longo de todos os parâmetros expressos no relatório, sabendo que o argumento da ocorrência do Covid-19, que em alguns indicadores mostra um agravamento para 2020, não serve de justificação para o descalabro que é a política nacional para os resíduos urbanos, sabendo que o incumprimento é uma tendência global, generalizada e que se vem agravando desde 2016, sem que a Covid-19 possa servir de desculpa.
Entretanto em 12 de Novembro, a Comissão Europeia decidiu intentar uma acção contra Portugal, no Tribunal de Justiça da União Europeia, por má qualidade do ar causada por níveis elevados de dióxido de azoto (NO2). Afirmando que “Portugal tem excedido contínua e persistentemente o valor limite anual de dióxido de azoto em três zonas de qualidade do ar (‘Lisboa Norte’, ‘Porto Litoral’ e ‘Entre Douro e Minho’). A poluição do ar por dióxido de azoto nessas zonas de qualidade do ar resulta principalmente do tráfego rodoviário, em particular de veículos a diesel. Portugal também não adoptou medidas adequadas para manter o período de excedência o mais curto possível.”
Trata-se de uma decisão que já tinha sido antecedida por um vigoroso aviso da comissão em Maio de 2019 e Fevereiro de 2020, sabendo que a poluição atmosférica continua a ser o principal problema de saúde ambiental na União Europeia e que, de acordo com estimativas da Agência Europeia do Ambiente, cerca de 400 000 mortes prematuras podem ser atribuídas à poluição atmosférica todos os anos na UE. Em relação ao dióxido de azoto (NO2) especificamente, as estimativas apontam para quase 50.000 mortes prematuras na UE a cada ano.
Um outro aspecto, que actualmente não tem sido alvo de muita atenção, seria saber como tem evoluído a qualidade das águas dos rios portugueses, para o qual não existem ainda dados devidamente consolidados. No entanto qualquer cidadão, minimamente atento, e que passeie nas margens de rios como o Leça, bacia do Trancão, Ave, entre outros, poderá facilmente verificar o estado continuo de degradação que tem ocorrido nos últimos anos.
Todos estes aspectos apenas vem comprovar o total falhanço do Governo na persecução de uma política ambiental digna desse nome, impedindo que os portugueses possam aceder a avanços civilizacionais, do ponto de vista da qualidade de vida e de respeito pelo meio-ambiente, exigidos por qualquer cidadão de um país desenvolvido.
Tudo isto vem sido substituído por um continuo jogar de anúncios de medidas, que nunca se cumprem, de outras que apenas afectam a qualidade e competitividade da economia portuguesa e que no final apenas servem para transformar as políticas ambientais num espectáculo circense para inglês ver, ou melhor ainda para Greta Thunberg.