Os Estados Unidos, de acordo com os dados mais recentes e disponibilizados pela Agência Internacional de Energia (AIE), têm registado uma continua diminuição das emissões dos gases com efeito de estufa, tendo no período entre 2007 e 2017 (último ano para o qual existem estatísticas oficiais) um decréscimo de 925 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Número que equivale a uma redução de 16%, restabelecendo as emissões ao nível de 1987. Resultado semelhante, ocorreu na Europa, em que a redução foi de 18%, para o mesmo período.

A redução consistente das emissões de CO2 nos Estados Unidos é explicada pela decrescente importância da geração de energia com origem no carvão, a qual tem vindo a ser substituída pelo gás natural e pelas renováveis (com especial importância a eólica). Este fenómeno é aquilo, a que vários analistas, designam por uma “gaseificação” da economia americana. Este percurso de transição energética teve o seu início no decorrer da presidência de George W Bush, acelerado pela presidência Obama e mantido pela administração Trump.

Muitas pessoas poderão estranhar os bons resultados e avanços obtidos pelos Estados Unidos na redução dos gases com efeitos de estufa, devido ao contínuo debate na sociedade americana, sobre as alterações climáticas e inclusive algumas teorias negacionistas da existência deste fenómeno. É caso de algumas declarações do Presidente Donald Trump. No entanto, apesar deste ruído, o caminho para uma economia descarbonizada tem-se mantido estável.

Seria de todo expectável que também em Portugal o panorama e tendência de redução dos gases com efeito de estufa, apresentasse resultados semelhantes ou ainda superiores àqueles verificados nos Estados Unidos e no resto da Europa. Porém, nada poderia estar mais longe da realidade, visto que Portugal tem aumentado, desde o ano de 2014, as emissões de gases com efeito de estufa. Quando comparado o ano de 2014 com o ano de 2017, verifica-se um aumento de 18% nas emissões CO2. Neste momento ainda não existem dados oficiais publicados relativamente aos anos de 2018 e 2019, mas será bastante provável que a tendência de aumento de emissões de CO2 continue numa trajectória ascendente. Esta evolução está conformidade com os dados publicados pela Direcção Geral de Energia e Geologia, registam-se um aumento do consumo de combustíveis, designadamente gasolina e gasóleo.

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Nos últimos 12 anos tem-se verificado grandes progressos em Portugal, com uma enorme incorporação de novas fontes de energia renovável no sistema eléctrico nacional, designadamente eólica, solar e hídrica. Simultaneamente o debate político e económico está cada vez mais centrado no fenómeno das alterações climáticas, existindo um consenso bastante alargado que abarca todos os quadrantes políticos e partidários, relativamente à urgência e necessidade de efectuar mais acções no sentido de combater este fenómeno.

Este panorama aparenta um contra-senso e ausência de lógica, visto que existe um acordo na sociedade sobre o tema e no qual o país tem investido fortemente através da descarbonização e electrificação da sua economia. No entanto os resultados vão no sentido oposto. Provavelmente um dos principais erros é vazio do debate, omitindo-se os verdadeiros motivos pelo quais as emissões mantêm uma tendência crescente. A discussão tem-se centrado na geração de energia eléctrica, esquecendo-se os outros sectores que, na sua globalidade são ainda mais importantes, como é a ausência de uma verdadeira política, de longo prazo, de mobilidade para o país.

Na vida, tal como na política, o mais importante será a realização de acções concretas, valendo muito mais do que retórica, muitas vezes vazia e sem aderência com a realidade. Talvez só assim Portugal possa regressar ao clube dos países que realmente estão a fazer alguma coisa de positivo no combate às alterações climáticas, como é o caso dos Estados Unidos e da generalidade dos países europeus.