Há duas razões muito fortes que explicam a necessidade de Portugal explorar as reservas de lítio no seu território (provavelmente, as maiores reservas de lítio na Europa).

Em primeiro lugar, por causa da transição energética. Em grande medida, o sucesso da transição energética na Europa depende do aumento do uso dos carros eléctricos e a consequente diminuição de carros a gasolina e a gasóleo. É muito simples: esta transição não se faz sem lítio. Não há carros eléctricos sem lítio.

Aliás, é absolutamente incompreensível que muitos grupos ambientalistas e verdes se oponham ao mesmo tempo à exploração do petróleo e do lítio. Será que querem uma sociedade sem carros? Seria esse o desfecho natural da oposição simultânea à exploração de petróleo e de lítio. Na verdade, estes grupos querem a transição para carros eléctricos, desde qua a exploração do lítio aconteça longe, na América Latina e em África. É o colonialismo verde do século XXI.

A União Europeia já aprovou legislação a proibir a construção de novos carros a gasolina e a gasóleo a partir de 2035. Mas não será possível atingir essa meta se não se explorar as reservas de lítio na Europa, e se não se contruir dezenas de refinarias de lítio nos países europeus. Neste momento, está a contruir-se uma refinaria de lítio perto de Setúbal. Com a exploração das reservas de lítio, Portugal passaria a ter uma parte muito importante das cadeias de produção que lhe permitiria ser um dos principais exportadores de lítio refinado para o resto da Europa.

Mas há uma segunda razão igualmente muito importante. Neste momento, a Europa depende da produção de lítio refinado na China. É extraordinário, tendo em conta as metas da União Europeia para 2035, mas neste momento não há sequer uma refinaria de lítio a funcionar nos países europeus. A União Europeia importa cerca de 60% do lítio refinado da China. Isto significa uma dependência maior do lítio chinês da que existia do gás russo. Se o governo de Pequim quiser, a Europa diminui drasticamente a produção de carros eléctricos.

Esta dependência da China é ainda mais importante porque há uma competição feroz entre a China, a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão pelo domínio do mercado global de automóveis no século XXI. A Alemanha e o Japão foram as principais potências no sector automóvel durante as últimas décadas do século XX e as primeiras do século XXI. A transição para os carros eléctricos está a mudar a distribuição do poder industrial global no sector automóvel. Portugal pode desempenhar um papel central para diminuir a dependência em relação à China e para ajudar a Europa a manter uma posição de liderança na indústria dos carros eléctricos.

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