Não é a primeira vez, nem a segunda vez, nem será a última, que os radicais de esquerda abandonam a classe trabalhadora. Agora está a abandoná-la a propósito do combate às alterações climáticas.

Os radicais, a Greta e os seus amigos, gostam muito de protestar e gostam ainda mais de aparecer nas notícias. É uma espécie de radicalismo pop. Há obviamente muita manipulação por trás destes protestos. É aqui que aparece a extrema esquerda bem organizada em ONGs, em associações, em institutos científicos, e até em partidos políticos. Para esta velha extrema esquerda, que parece moderna, o combate continua a ser o mesmo de sempre: acabar com o capitalismo e a economia de mercado. O clima muda, mas elas e eles não mudam. Nunca mudarão.

Do outro lado estão os orgulhosos proprietários dos Teslas. Nada tenho contra quem compra carros eléctricos, faço apenas um apelo ao sentido de proporções e ao bom senso. Para comprar um Tesla, é preciso ter dinheiro. Experimentem olhar com atenção quando conduzem na grande Lisboa e vejam onde estão os Teslas. Não estão na Amadora, nem em Almada ou em Belas. Estão nas avenidas novas, no Restelo e em Cascais (ou melhor na Quinta da Marinha). Em Londres, o maior número de Teslas estão na City. Não estão nos bairros pobres do sul da cidade. É assim por toda a Europa. As elites urbanas podem comprar carros eléctricos, as classes médias baixas e os mais pobres continuam com o seus velhos carros a gasóleo ou gasolina. E na província dos países europeus, anda-se durante centenas de kms e não se encontram carros eléctricos; Teslas só nas televisões. Ou seja, a Greta e os amigos fazem manifestações contra as classes médias e os seus carros a gasóleo, quem tem dinheiro compra Teslas, e Musk tornou-se o homem mais rico do mundo.

Quando pensamos nas políticas para fazer a transição energética, devemos pensar nos mais pobres, nos que têm poucas posses. A maioria silenciosa e remediada não pode ser vítima da minoria barulhenta e da minoria rica. Se a indústria automóvel europeia não for capaz de construir carros eléctricos baratos, e até agora tem sido incapaz, a transição energética será um fracasso, e a União Europeia pode esquecer o objectivo das emissões zero em 2050.

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