As previsões para o crescimento económico colocam Portugal cada vez mais na ponta da cauda da União Europeia. Nos media destacou-se que ‘até a Roménia’ nos deverá ultrapassar em 2024 em PIB per capita. De facto, há 20 anos, a Roménia ocupava o último lugar deste ranking, com um PIB per capita que correspondia a 27% do da UE (Pordata). Em 2021, o seu PIB per capita era já praticamente igual ao de Portugal, correspondendo a 73% do da UE. Um progresso notável, o da Roménia.
No ano 2000, após quatro décadas de forte crescimento económico e convergência, o nível de riqueza gerado por português atingiu 85% do valor da UE. Foi o melhor resultado alcançado desde o século XIX – ver, por exemplo, o artigo do historiador económico Nuno Palma. Entre 1960 e o ano 2000, Portugal fez parte das 10 economias da OCDE que mais cresceram. Nessa época, vivíamos convencidos que iríamos alcançar o ambicioso, e mobilizador, objetivo lançado pelo primeiro-ministro Cavaco Silva de integrar o pelotão da frente. Esta analogia velocipédica transmitia a ambição de vencermos o atraso estrutural da economia portuguesa em relação aos países mais desenvolvidos da UE.
No entanto, a ambição não se cumpriu. Desde o início do século XXI, as taxas de crescimento económico caíram para valores muito baixos, tendo registado valores negativos em seis anos. Entrámos novamente numa trajetória de divergência e afastámo-nos do pelotão da frente. Em 2021, o PIB per capita correspondia a 74% do da UE. Entre 2000 e 2021, Portugal passou da 15ª para a 21ª posição no ranking do PIB per capita. Assim, como podemos ver na figura, Portugal está cada vez mais próximo da ponta da cauda da Europa.
A queda de Portugal no ranking do PIB per capita da UE é muito preocupante e merece todo o destaque que tem tido nos media. Em primeiro lugar, um PIB mais elevado é uma condição necessária para erradicar o flagelo da pobreza infantil e na população mais idosa. Por outro lado, o afastamento do pelotão da frente prende-nos num círculo vicioso: os mais qualificados procurarão as melhores oportunidades de carreira noutros países, acentuando o empobrecimento do país e o enfraquecendo o seu potencial de crescimento.
Na análise dos dados do PIB per capita da UE, verifica-se que nos últimos 20 anos se registou uma aproximação muito significativa entre o pelotão da frente e a cauda da UE, isto é, registou-se uma forte diminuição da desigualdade de rendimento entre os países da UE – ver figura abaixo, onde os países acima de zero convergiram com a UE e os países abaixo de zero divergiram da UE. Excluindo os casos do Luxemburgo e da Irlanda, cujos valores do PIB são distorcidos pela sua fiscalidade paradisíaca, a diferença entre o PIB per capita do país mais rico e o mais pobre diminuiu de 5,3 vezes em 2000 para 2,4 vezes em 2021. Com a exceção da Dinamarca, todos os países com um PIB per capita superior à média da UE, ficaram relativamente menos ricos. Neste grupo o destaque vai para a Itália, que entre 2000 e 2021 passou de um PIB per capita de 122% da UE para 95%, passando da 9ª posição para a 12ª no ranking. A França reduziu o PIB per capita, em relação ao da UE, de 118% para 104%.
No grupo de países mais pobres, a larga maioria, do Centro e do Leste Europeu, melhorou de forma extraordinária a sua posição em termos de PIB per capita. Para além da Roménia, destacam-se os países Bálticos, com os processos de convergência mais acelerados e fortes subidas no ranking do PIB per capita da UE.
Nesta análise, sobressaem pela negativa os países do Sul da Europa. Para além de Portugal e da Itália, a Grécia e a Espanha foram os países que mais divergiram e que sofreram as maiores quedas no ranking do PIB per capita da UE. O PIB per capita da Espanha, em percentagem do da UE, diminuiu de 97% em 2000 para 84% em 2021, caindo no ranking do PIB per capita da 12ª para a 17% posição. Nesse período, a Grécia caiu da 14ª para a 26ª, isto é, a penúltima posição do ranking.
Desde a decisão de adesão ao euro, em 1993, Portugal cometeu muitos erros, não tendo adaptado a sua política económica ao novo contexto – ver, por exemplo, o livro Crise e Castigo. Espanha, Grécia, e Chipre cometeram também erros graves na gestão da política económica. No entanto, os dados dos últimos 20 anos mostram que os países do Centro e do Leste Europeu foram os grandes ganhadores da integração europeia e que os países do Sul da Europa foram os grandes perdedores. Não nos serve de grande consolo partilharmos este infortúnio, mas não podemos ignorar os efeitos da deslocação do centro económico da Europa para Leste na sequência da Queda do Muro de Berlim e da implosão da União Soviética.
Num momento em que vivemos grandes mudanças geopolíticas, temos a obrigação de perceber os seus impactos e as suas implicações para as políticas económicas. Estas devem ser ajustadas às novas formas que o mundo vai tomando.