Enquanto Portugal está entre a estabilidade e a crise política, a Espanha já começou as preparações para as eleições municipais, regionais e gerais que irão acontecer este ano. Nuestros hermanos serão chamados às urnas duas vezes: a 28 de maio para decidirem o futuro do seu município e da sua região (eleições municipais e autonómicas), e entre novembro e dezembro – ainda não há uma data confirmada –, para decidirem quem deve liderar os destinos do país (eleições gerais/legislativas).
Este será um ano longo para a política interna e externa espanhola. O facto de a Espanha ter três tipos de eleições no espaço de um ano, que depois servirão de “empurrão” para as Eleições Europeias de 2024, e de ainda ter de assumir a Presidência rotativa do Conselho da União Europeia no 2º semestre deste ano, poderá certamente trazer algum cansaço. Quer para os políticos que tentarão convencer e atrair votos junto do seu eleitorado, quer para o povo espanhol, que levará com “politiquices” o ano todo para escolher o futuro político do seu município, da sua região e do seu país para os próximos quatro anos.
As eleições de 28 de maio
Para estas eleições autonómicas e municipais de 28 de maio, os líderes partidários já deram início às suas campanhas eleitorais e já estão em tour por todo o território soberano espanhol. Os partidos e os seus respetivos líderes tencionam investir, e muito, nos seus comícios, e não será de estranhar se houver alguns discursos para o seu eleitorado já direcionados para as eleições gerais.
De todas as comunidades autónomas espanholas é importante referir que algumas já tiveram eleições nos últimos anos: Galiza e País Basco em 2020, Catalunha e Madrid em 2021 e as regiões de Castilha e Leão e da Andaluzia em 2022, ou seja, no ano passado. Eis os resultados sumariados:
- Galiza: Ganha pelo PP (Partido Popular) com maioria absoluta;
- País Basco: Ganha pelo PNV (Partido Nacionalista Basco) sem maioria absoluta. Governo teve de ser formado com o Partido Socialista;
- Catalunha: Ganha pelo PSC (Partido Socialista Catalão) sem maioria absoluta. Governo foi formado entre o JxCat (Juntos pela Catalunha), a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e o PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão);
- Madrid: Ganha pelo PP (Partido Popular) com maioria absoluta;
- Castela e Leão: Ganha pelo PP (Partido Popular) sem maioria absoluta. Foi feito um pacto de governo com o VOX;
- Andaluzia: Ganha pelo PP (Partido Popular) com maioria absoluta.
Como tal, este ano, as comunidades de Aragão, Astúrias, Baleares, Canárias, Cantábria, Castilla-La Mancha, Comunidade Valenciana, Extremadura, Múrcia, Navarra, La Rioja e todos os municípios de todo o país irão a votos.
Todavia, a Comunidade Autónoma de Madrid vai também a votos. Apesar de terem tido eleições há 2 anos, os madrileños, além de votarem no futuro do seu município, irão votar novamente no futuro da sua região. Esta situação deve-se ao estatuto autonómico da região. De acordo com o artigo 21º da Lei Orgânica do Estatuto de Autonomia da Comunidade de Madrid, o/a “Presidente da Comunidade de Madrid, após deliberação do Governo e sob sua exclusiva responsabilidade, pode acordar a dissolução da Assembleia antes do fim natural da legislatura” e assim convocar eleições regionais antecipadas.
Ora, de acordo com as sondagens apresentadas, o mapa de Espanha está maioritariamente pintado de azul (cor do PP). Neste momento está a ser um cenário altamente positivo para o PP (direita) e péssimo para o PSOE (centro-esquerda) que, junto com o seu líder Pedro Sánchez, que tem como principal objetivo a sua reeleição como chefe de governo, mostram que estão a ter enormes dificuldades junto do eleitorado espanhol.
De facto, as sondagens publicadas acabam por ser um contributo para o estudo e para a análise eleitoral. Contudo, os dados apresentados têm sempre tendência a sofrer alterações, e até maio tudo é possível. Mas, e se excluirmos as sondagens, é possível verificar noutra perspetiva o atual momento do PP e do PSOE? Sim, é possível. Onde? Nos resultados eleitorais sumariados anteriormente.
A perda da Comunidade Autónoma da Galiza em 2020 para o PP, a derrota contra Isabel Díaz Ayuso (PP) em Madrid em 2021 e ainda, as derrotas nas eleições de Castela e Leão e da Andaluzia em 2022, também ganhas pelo PP, foram grandes derrotas políticas para o atual chefe do governo espanhol e para o seu próprio partido. É neste sentido que é possível concluir que o PSOE está a ter problemas e o PP parte neste momento em vantagem para as eleições de 28 de maio.
As eleições gerais e a impopularidade de Pedro Sánchez
Ainda não há uma data oficial para a realização destas eleições. Contudo, de acordo com o artigo 68º da Constituição espanhola, “as eleições terão lugar entre os trinta dias e sessenta dias desde o termo do mandato”, ou seja, como o mandato foi iniciado em dezembro de 2019, significa que as eleições serão realizadas entre novembro e dezembro deste ano.
O facto de estas eleições serem depois das autonómicas e municipais de 28 de maio é bom, porque irá permitir aos líderes partidários manterem ou alterarem as suas estratégias políticas, dependendo, claro, dos resultados que conseguirem obter daqui a quatro meses.
Com base nas sondagens que têm sido publicadas, se analisarmos a que foi publicada recentemente, no dia 2 de fevereiro, pelo jornal espanhol El Mundo, Pedro Sánchez (PSOE) ocupa o 2º lugar nas intenções de voto atrás de Alberto Núñez Feijóo do Partido Popular (PP) com uma diferença de 6,5 pontos percentuais. De acordo com os dados apresentados, nas eleições gerais o PP ganharia com 31,1% (133 lugares) e o PSOE chegaria aos 24,6% (94 lugares). Já o VOX chegaria aos 16% (50 lugares) e o Unidas Podemos ficaria pelos 10,2% (24 lugares). O Ciudadanos, que há cinco anos surgia à frente de PP e PSOE e que agora luta pela sua sobrevivência política, surgiria com 2,2 pontos percentuais. Também as sondagens publicadas pela Electomania e pelo Ok diário, mostram resultados idênticos aos publicados por El Mundo.
Ora, embora Alberto Feijóo (PP) ganhasse as eleições, este não conseguiria ter a maioria absoluta. Aqui, a solução era igual à que foi feita com a Comunidade Autónoma de Castela e Leão no ano passado. O PP não conseguiu maioria absoluta e fez uma coligação com o VOX para conseguir governar. Aliás, o Presidente do VOX já admitiu a disponibilidade de acordos com o PP após as eleições legislativas.
Como foi analisado anteriormente, o PP parece estar em ascensão e o PSOE em queda e aqui coloca-se a questão: Porquê? A resposta é: Pedro Sánchez.
Além das sondagens, a manifestação realizada em Madrid no dia 21 de janeiro é uma prova da impopularidade do atual Presidente do Governo espanhol. Esta contou com mais de 30 mil pessoas que acusaram o governo de Sánchez de “desarmar o Estado”, de “deteriorar as instituições” e de “enfraquecer a democracia”. Defenderam uma “Espanha unida” – aqui há uma defesa de uma só identidade, que é um tema muito discutido em Espanha –, e criticaram o Governo espanhol por ter indultado em dezembro do ano passado os principais autores, liderados pelo antigo presidente da Catalunha, Carles Puidemont, de tentativa de independência da região em 2017.
Durante a sua legislatura, Pedro Sánchez abriu diálogo com os independentistas (Catalães e Bascos). É por isso que, após 2017, nunca mais se falou de uma nova tentativa de autodeterminação da Catalunha. Mais, os independentistas têm sido um apoio político de Sánchez porque, como este não tem maioria parlamentar, projetos de lei e orçamentos de estado têm sido aprovados. Como tal, há um preço alto a pagar por esse apoio dos independentistas que resulta na insatisfação da oposição e da sociedade civil.
Por isso é que, devido à impopularidade, às derrotas eleitorais regionais nos últimos três anos e às sondagens apresentadas, o governo de Pedro Sánchez tem criado medidas para desesperadamente subir a sua popularidade e a do seu partido para atrair votos para as eleições, tais como a eliminação do IVA nos alimentos básicos, o apoio de 250€ com duração de 2 anos aos jovens para pagarem a sua renda da casa, a reformulação das leis laborais, que tem contribuído para a diminuição do desemprego jovem e o aumento do ordenado mínimo para 1.080, que foi anunciado recentemente.
Nos últimos dois a três anos já aconteceram eleições ou crises políticas que levaram à queda de líderes como Donald Trump, Boris Johnson, Jair Bolsonaro, entre outros. A má gestão da pandemia Covid-19, a recessão económica, o aumento da pobreza e as polémicas que criaram instabilidade política foram motivos para uma mudança governativa. Se olharmos para Pedro Sánchez, como líder do governo espanhol, já passou por uma pandemia que atingiu seriamente o país, passou por um abrandamento económico que, segundo o INE espanhol, foi agora ultrapassado com a economia espanhola a registar em 2022 um crescimento de 5,5%, o segundo maior desde 1973, e ainda persiste a crise dos refugiados e a Guerra na Ucrânia. Porém, a questão dos independentistas e as decisões radicais de esquerda que Sánchez tomou em torno do feminismo e da mudança de género têm contribuído para a sua baixa popularidade.
O que é certo, e de forma a concluir, é que só após as eleições autonómicas e municipais é que teremos uma perspetiva mais realista da posição em que os partidos políticos se encontrarão para o caminho das legislativas. Aí os dados darão uma melhor análise. Por isso, ainda há tempo.
Contudo, há um aspeto importante a referir. A Europa está a virar à direita. Após Itália, há que ter atenção à Espanha. Se os espanhóis passarem de centro-esquerda para a direita, com a possibilidade de haver coligação de governo entre o PP (direita) e o VOX (extrema-direita), a esquerda europeia ficará mais apertada e aqui, em Portugal, pode servir de inspiração para uma coligação entre o PSD e o Chega, caso António Costa não consiga aguentar a sua legislatura até ao fim.