O anúncio de Marques Mendes, sobre uma eventual disponibilidade para se candidatar à Presidência da República, reacordou o debate político e jornalístico, que se entretém nestes últimos dias de Verão com cenários e listas de candidatos para a eleição a ocorrer em 2026. Entre apostas e hesitações, os nomes à direita para conquistar Belém parecem estar definidos: Luís Marques Mendes, Pedro Santana Lopes, Durão Barroso, Paulo Portas, Pedro Passos Coelho. À esquerda, as dúvidas são maiores: Augusto Santos Silva surge como o mais assumido, mas há também António Guterres ou hipóteses menos óbvias, como Mário Centeno. Ora, mais do que discutir nomes, a mais de dois anos de distância, talvez seja oportuno reflectir sobre o que esta lista nos diz acerca das eleições presidenciais.
Para além de todos os nomes avançados serem de homens, o que tem grande significado sobre o papel das mulheres na política portuguesa, e também de figuras do mundo político-partidário (PSD/CDS e PS), sobressai o aspecto geracional. Marques Mendes (faz 66 anos na próxima semana), Santana Lopes (67 anos), Durão Barroso (67 anos), Paulo Portas (faz 61 anos em breve) e Santos Silva (67 anos) são sexagenários. As excepções são Passos Coelho (59 anos) e Centeno (56 anos), que são também candidatos pouco prováveis. E António Guterres, que já tem 74 anos. Ou seja, para substituir Marcelo Rebelo de Sousa (75 anos, eleito em 2016 com 67 anos), a luta eleitoral está, grosso modo, entregue a homens sexagenários que, a cumprir a tradição de dois mandatos em Belém, exercerão funções entre os 68 e os 78 anos de idade.
A teórica vantagem da direita para as próximas eleições presidenciais encontra explicação neste factor geracional: se o recrutamento se faz entre sexagenários, terão mais argumentos aqueles cujo percurso político teve raízes nos anos 80 e 90, que foram os anos de afirmação de PSD com três governos de Cavaco Silva (que Marques Mendes, Santana Lopes e Durão Barroso integraram, e que catapultaram Paulo Portas, primeiro enquanto jornalista n’O Independente e, a partir de 1995, enquanto figura de destaque no CDS). Entre 2016 e 2026, o período de 10 anos que antecede as próximas eleições presidenciais, só Augusto Santos Silva (actual presidente da Assembleia da República) e António Guterres (nas Nações Unidas) ocuparam altos cargos políticos — e não parece que isso os favoreça enquanto potenciais candidatos presidenciais.
Ou seja, a hipotética vantagem da direita não resulta de um qualquer mérito recente dos partidos ou dos seus protagonistas, mas do perfil tradicionalmente associado aos candidatos presidenciais, que reduz a Presidência a um “prémio carreira”, geralmente antecedido pelo estatuto de “senador-comentador televisivo”. Obviamente, a manter-se a tendência, as elites políticas para o ciclo presidencial seguinte (em 2031 ou 2036) serão maioritariamente socialistas, pois é do PS o protagonismo político em vários governos desde 2005, com oportunidade de formar inúmeros quadros no exercício de funções executivas.
Talvez uma reflexão a fazer derive mesmo daí: devemos continuar a percepcionar a Presidência da República como um “prémio carreira”, reservado a políticos na pré-reforma? Ou deve a Presidência da República abrir-se a outros perfis, eventualmente mais jovens e/ou mais ligados à sociedade civil, menos dependentes dos apoios dos partidos? Num momento em que tanto se discute o pós-Marcelo em termos de estilo, de comunicação e de modelo de actuação, a discussão ganharia se se olhasse para além da habitual bolha da política. Afinal de contas, as eleições presidenciais são unipessoais e não partidárias. E não faltam pessoas interessantes para agitar as águas pantanosas da política nacional. No plano teórico e a título exemplificativo, aqui vai uma: como reagiria o país à candidatura de uma mulher independente, mediática e da televisão, embaixadora da boa vontade nas Nações Unidas e com créditos firmados no combate às desigualdades sociais, como Catarina Furtado?