1 Que disponibilidade de vacinas?
Infelizmente, a União Europeia, agora já sem o Reino Unido, cometeu dois erros graves que estão a limitar gravemente a disponibilidade de vacinas na Europa continental:
- Não atribuiu significativamente apoios públicos à investigação e ao desenvolvimento das vacinas, ao contrário das economias mais liberais dos EUA e do Reino Unido;
- Limitou-se a adotar o papel de comprador, negociando os contratos de compra procurando minimizar o preço.
As consequências são conhecidas, e eram previsíveis, pois quem recebe vultuosas verbas públicas dos Estados assume compromissos de entrega prioritária e quem minimiza o preço aumenta o risco de incumprimento contratual. Convém, aliás, notar, que esta situação também tem sido vivida em Portugal na compra de outras vacinas mas sem o impacto mediático de agora. Eis porque, em Portugal, tal como noutros Estados, o processo de vacinação está muito atrasado e a principal disponibilidade é limitada e incluindo significativa componente da vacina AstraZeneca.
2 Quais as infeções causadas pela suspensão da vacinação?
Surpreendentemente, esta situação agravou-se recentemente pela decisão de suspensão da vacinação com a vacina AstraZeneca, que foi tomada sem se basear em recomendações das entidades especializadas competentes, mas em sucessão, tipo cascata, por muitos dos Estados da UE incluindo Portugal. O fundamento terá sido a ocorrência de reações problemáticas em cerca de 40 casos após a vacinação de 17 milhões de cidadãos, o que corresponde a um probabilidade de 0,00024%. Em Portugal terão existido dois casos em 200 mil vacinados, ou seja, com a probabilidade de 0,001%. Consequentemente, se se suspender a vacinação a 100mil pessoas durante 14 dias surgem duas consequências:
- Evitam-se dois casos problemáticos se se usar a estimativa nacional, ou apenas 0,3 se se usar a estimativa europeia;
- Expõem-se essas 100 mil pessoas ao risco de infeção, o qual, atualmente, corresponde a 100 infeções por 100 mil pessoas, podendo esperar-se que mais de 10 tenham de ser hospitalizadas e, eventualmente, talvez uma tenha que receber cuidados intensivos.
Ou seja, a suspensão da vacinação evitará entre 0,3 ou dois casos adversos, mas gera 100 infeções com 10 internamentos e um possível doente a necessitar de cuidados intensivos. Terá sido boa opção?
Em suma, as decisões sobre políticas públicas têm de se basear em avaliações comparativas de riscos e não apenas em dúvidas.