Quanto vale uma mulher1 para o seu marido? Depende do amor2 que este lhe tenha. Nalguns casos, para aqueles que estão dispostos a dar a vida3 por ela, vale tudo. Para estes, o preço4 a pagar—a sua própria vida—é inferior ao valor5 que atribuem à sua amada. Por isso consideram a autoimolação um preço muito razoável a dar pelo seu tesouro.

Para outros, valerá menos. Alguns, não estando dispostos de sacrificar a sua vida biológica, estarão, no entanto, dispostos a dar por ela toda a sua fortuna. Nalguns casos isso pode ser biliões, noutros, duas pequenas moedas6. Em ambas as situações, é todo o seu património, mas não a própria vida. É muito. É imenso. Mas será isso verdadeiro amor?

Outros haverá que que estarão dispostos a desembolsar por ela, não tudo, mas uma porção, maior ou menor, da sua fazenda e do seu tempo—que é dinheiro. Finalmente, alguns até pagarão para se livrar dela. Para estes, o valor da mulher é negativo. Ela é, o que se chama na gíria, um ativo tóxico.

Os seguintes princípios aplicam-se nesta avaliação:

  1. O valor que uma pessoa tem para outra mede-se por aquilo que esta está disposta a dar por aquela. Felizmente que o preço a pagar—incluindo, nalguns casos a própria vida— é geralmente inferior ao valor que lhe é atribuído.
  2. A mesma pessoa pode ter valores diferentes para pessoas diferentes. O valor que um pai ou uma mãe atribuem a uma filha pode ser diferente da valoração feita pelo seu marido ou filhos.
  3. O preço, quase nunca, corresponde ao valor. Usualmente existe uma diferença entre o valor percecionado e preço a pagar, a que se chama em linguagem técnica, o “excedente do consumidor”.

Uma outra perspetiva, que é o reverso desta, e tem o mesmo peso e valor, é que uma mulher valerá para o marido aquilo que ele espera receber dela no futuro. Para alguns ela será a sua razão de ser. Um só minuto da sua presença valerá para ele todos os tesouros da terra. Nestes casos, ele atribuir-lhe-á um valor imensurável e a sua eventual perda significaria, para ele, o fim do mundo.

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Para outros, o seu valor será o das comodidades, prazeres e rendimentos que ela lhe trará, algo que pode variar, segundo os casos, entre o imenso e o insignificante, mas que pode ser quantificável monetariamente. Finalmente, para outros, as chatices, incómodos & despesas que ela representa terão um valor agregado claramente negativo. Nestes casos o divórcio parece ser a solução, a não ser que a eutanásia apresente custos mais baixos.

Esta teoria de valor não se aplica apenas às mulheres. Também é aplicável às vacas. E às obras de arte. E à independência nacional. É conhecida como a Teoria Subjetiva do Valor e, na sua vertente computacional é designada pelo críptico “DCF”. Um dos seus princípios básicos é que o valor atribuído a algo varia de pessoa para pessoa, é subjetivo. Outro é que esse valor se pode medir ou pelo que essa pessoa está disposta a dar pelo objeto em questão, ou pelo que espera poder receber através dele no futuro. É uma teoria relativamente recente: terá cerca de um século e meio e só começou a ser amplamente transmitida nas universidades ocidentais a partir de meados do século 20, e nas dos países do Leste a partir da queda da Cortina de Ferro.

Veio substituir outra, usada por Aristóteles, Adam Smith & Karl Warx, a Teoria do Valor-Trabalho, que postulava que apenas o trabalho humano gera valor. Segundo esta perspetiva, o valor de algo seria igual à soma de todo o labor necessário para se o obter: quanto mais trabalho é posto na coisa, maior o seu valor. Um dos seus corolários, subjacente a toda a política económica dos nossos governos e suporte da prosperidade nacional que atualmente gozamos, é que quanto menos produtivo for um trabalhador, maior o valor daquilo que produz. Daqui se percebe porque é que a incompetência governativa se tenha tornado a nossa maior fonte de riqueza nacional.

A Teoria do Valor-Trabalho ainda é amplamente usada, explicita ou implicitamente, na Tugulândia por srs. ministros7, gestores e outros profissionais pagos muito acima da sua valia. Quando alguém sugere, por exemplo, que o preço de uma casa deve ser equivalente ao do custo dos tijolos, cimento e trabalho (desde o do projeto de arquitetura até ao do assentar os tijolos) necessários para a construir, está a usar esta teoria e a demonstrar que vive intelectualmente algures entre o século 4 a.C e o século 198. Parafraseando o Poeta, pode saber o custo de tudo, mas não sabe o valor de nada.9

Fica a questão: usando a Teoria do Valor-Trabalho, quanto valerá uma mulher? Sendo que chatices são trabalheiras & custos, quanto mais chata ela for, maior o seu valor?

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue já segundo os dytames du acordu que revogará u atual.

  1. Mulher: construção ideológica do hétero-patriarcado branco sem fundamento científico; a sua inexistência real torna o uso do termo inofensivo y incapaz de causar ofensa; segundo teoria fabulosa de Aristóteles, bicho que vive nas imediações dos homens, mas que não é domesticável; termo usado por S. Gabriel na saudação angélica para designar o conjunto de toda a humanidade.
  2. Amor: estado de insanidade grave & por vezes delirante, geralmente temporário, mas que em alguns casos raros se torna crónico; uma das doenças do estilo de vida, como diabetes mellitus tipo 2, a doença arterial coronária, ou a hipertensão, que têm menor incidência em sociedades com mais baixos rendimentos; em tempos idos o casamento era receitado como cura e prevenção, mas a prática caiu em desuso; a taxa de mortalidade associada a esta patologia tem decrescido acentuadamente durante no último século.
  3. Vida: união do corpo com a alma; condimento espiritual que preserva o corpo de corrupção; a condição que distingue os animais e plantas dos seres inorgânicos, definição contestada pelos srs. drs. que defendem que no estado vegetativo já não existe vida; é vivida na apreensão da morte; a questão de se vale a pena viver a vida é acesamente discutida, não no que respeita a cães e gatos, cobras e lagartos, sobre o qual não há pan para dúvidas, mas relativamente aos humanos, especialmente por aqueles pensadores que, por questões ambientais, respondem pela negativa.
  4. Preço: aquilo que se paga numa transação e que inclui os custos materiais & morais da sua produção, distribuição & venda; valor de mercado, mas não dos mercantes; classifica-se em regulado, manipulado e especulativo.
  5. Valor: estimativa, monetária ou qualitativa, da importância ou excelência de algo; princípios orientadores que regem o comportamento de acordo com a valia que se dá às coisas, às experiências e às pessoas, até ao momento em que algo de mais tangível seja posto à disposição do sujeito.
  6. Moeda: aquilo que nos permite comprar cerveja; ser criado pelo simples fiat do suberano, que recentemente delegou este seu poder no BCE; ser inanimado que anima as mulheres; uma bênção que nos alcança o inferno; instrumento de troca e unidade de conta; graça temporal que só nos traz vantagem material quando nos desfazemos dele; certidão de cultura para quem o possui; excremento do demónio; passaporte para a sociedade refinada e conselho nacional do ps/d; propriedade portável; imobilizado em estado liquido; móbil para militância no BE; aquilo em que Nosso Senhor Jesus Cristo nunca tocou, ao contrario de cadáveres, leprosos e hemorraísas; Aristóteles, o pai da biologia, pensava que a moeda, como ser inanimado, não se deve reproduzir, e por isso condenava o juro como imoral; embora gerações posteriores de banqueiros, comerciantes & economistas tenham demonstrado que, de facto, o dinheiro se consegue reproduzir como coelhos, os biólogos modernos, presos a tradições peripatéticas, ainda não classificaram o dinheiro em nenhuma das famílias de seres vivos, seja como procariontes, seja como eucariotos; dinheiro e moeda são para todos os efeitos sinónimos, embora o Prof. Dr. Flugêncio Lopes Rabecão, no seu erudito manual Moeda e Bancos(Univ. Coimbra) exponha as 99 diferenças conceptuais entre os dois termos e as demonstre com 101 dissemelhanças técnicas. O seu livro custa €200. Mas vale nada. Qual é o seu VAL? [Resp.: VAL = -€200, para todas as taxas de desconto verosímeis.].
  7. Ministro:malfeitor; feitor de uma organização política numa quinta ou quintinha; peça instrumental no enriquecimento de familiares & amigos; feitor de uma autoridade superior com responsabilidade inferior e nomeado pelas suas qualificações, a principal das quais é um grau plausível de inveracidade; título honorífico atribuído a membro de quadrilha quando esta sucede no seu assalto ao estado; peça no tabuleiro político, correspondente ao cavalo no xadrez, que pode avançar, recuar ou mover-se lateralmente, mas sempre em movimentos não retilíneos. Quanto vale um sr. ministro? Consultar aqui, aqui e aqui.
  8. Século 19: um período ótimo para se viver, especialmente para os que acreditam no socialismo.
  9. Oscar Wilde (1854—1900), Lady Windermere’s Fan, 1893.