Os jihadistas que, em menos de quinze dias, mataram 29 pessoas e feriram mais de 100 em Inglaterra, faziam parte de grupos e estavam referenciados pela polícia. Um deles até aparecera num documentário televisivo sobre o islamismo. Em Inglaterra, a polícia vigia mais de 3 000 suspeitos, dos quais 400 terão recebido treino no Médio Oriente. É impossível que nunca tivessem sido notados nas famílias, nos bairros e nas mesquitas, como reconheceu um porta-voz das associações de muçulmanos de Londres. Temos portanto um problema de polícia, mas também das comunidades muçulmanas.

A resposta para o terrorismo é a “repressão”. Mas se o problema for para além de uns quantos niilistas e disser respeito a grandes comunidades, como são as comunidades muçulmanas em muitas cidades da Europa, a repressão chegará a um nível em que mudará as sociedades ocidentais.

A solução estará então na “integração”? Veja-se a história do bombista de Manchester, Salman Abedi. O seu pai era um islamista radical, que obteve refúgio em Inglaterra para escapar à repressão de Kadhafi na Líbia. Abedi pôde assim nascer em segurança na Europa, onde teve acesso a casa, cuidados de saúde, escolas e subsídios para viver confortavelmente. Na Líbia, a família de Abedi era perseguida. Nos outros países do Médio Oriente, ele e os seus familiares teriam sido encurralados num campo de tendas e proibidos de trabalhar, como acontece aos refugiados sírios na Turquia, dependentes da caridade das Nações Unidas. Na Inglaterra, era livre para praticar a sua religião, tinha passaporte, podia votar e ser eleito. Que mais podia a Inglaterra ter feito pela “integração” de Abedi?

Há coisas, porém, que os ocidentais não fizeram para Abedi se sentir integrado. Por exemplo, não mandam as mulheres ficar em casa e só sair à rua escondidas numa burka. Não chicoteiam e condenam à morte homossexuais. Não proibiram o cristianismo nem fecharam as igrejas. Mas se o Ocidente não tenciona transformar-se numa versão do regime salafista da Arábia Saudita, deverá exigir aos muçulmanos que se “adaptem” aos valores, costumes e leis das sociedades de acolhimento?

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A tese da “adaptação” tem dois problemas. Um é saber a que Ocidente se devem adaptar. Ao que afirma a tradição cristã e iluminista e o Estado de direito, ou ao que nega e desvaloriza tudo isso como uma abjecção sexista e racista, e reconhece ao jihadismo o direito de retaliação das “vítimas”?

O outro problema é este: as comunidades muçulmanas na Europa estão em expansão e o peso demográfico das suas sociedades de origem não cessa de aumentar perante uma Europa envelhecida e em refluxo populacional. Em 1950, a Europa ocidental tinha 142 milhões de habitantes, e o Norte de África e a Ásia Ocidental, 99; hoje, a Europa ocidental tem 191 milhões, e o Norte de África e a Ásia Ocidental, 489. É portanto irrealista esperar que os muçulmanos europeus se diluam simplesmente nas sociedades de acolhimento. Pelo contrário, é muito provável que continuem a ser inspirados pelas suas sociedades de origem, incluindo pelas ideologias aí vigentes.

Tudo isto quer dizer que há que pensar para além do paroquialismo da “integração”, da “adaptação” ou da “repressão” doméstica. Os europeus precisam talvez de começar a conceber a Europa como parte do mundo do Médio Oriente e do Norte de África, e de reconhecer que a viabilidade do modo de vida ocidental passa por o tornar viável em toda essa região, nomeadamente eliminando os focos de galvanização e treino do terrorismo.

Bem sei: era assim que pensava George W. Bush. Mas só porque Bush pensou assim, não quer dizer que um dia não precisemos de o pensar outra vez. Os muros à Donald Trump não vão chegar. Por menos jeito que nos dê admitir isso, o facto é que o terrorismo islâmico é um problema da globalização, que só poderá ser resolvido globalmente.