Desde a sua fundação que o CDS não tem bem resolvida a natureza da sua essência e do ideário que criou e o animou, ao longo dos anos, como partido democrático.

O que pode parecer anacrónico porque, pelo menos aparentemente, o CDS deveria ter beneficiado da clarificação ideológica que a queda do muro de Berlim propiciou.

Se quisermos, com honestidade e memória política, apontar partidos que não são uma “pastiche” ou, pior, uma indizível negação prática do ideário político que esteve na sua génese teremos que, sem evocar marginalidades, reconhecer que o PCP e o CDS são esses partidos.

Com uma diferença essencial ou decisiva: o PCP, a menos da embaraçosa geringonça, nunca cheirou verdadeiramente o poder. Ao contrário, o CDS alimentou a sua animada existência dessa aspiração ou, em melhores momentos, dessa realidade.

E talvez tenha sido o ímpeto para o poder que verdadeiramente não deixou o CDS sair da sua quase permanente menoridade.

No partido estiveram lideres e dirigentes de enorme relevância mas a premente convocatória de uma aliança de poder à direita que nunca lideraram, fez com que o partido e alguns dos seus principais dirigentes, se tornassem demasiado vulneráveis a um status quo que cedeu sempre a esta pastiche, ou hipocrisia ideológica que condicionou definitivamente a afirmação de um verdadeiro partido representativo da direita democrática em Portugal.

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As “viragens” à esquerda de Diogo Freitas do Amaral ou mesmo de Francisco Lucas Pires, tiveram mais a ver com o perfume do poder e a conformação a esse status quo, do que com alguma introspeção ou depuração ideológica que nunca me pareceu evidente, num ou no outro caso.

Claro que, ao aceitar ser um partido meramente instrumental, o CDS, em vez de levar a crédito a coerência ideológica e o facto de ser o único partido a representar um espaço político insubstituível, ficou dependente do virtuosismo ou da frivolidade do seu líder e/ou dos seus principais dirigentes. Pedro Passos Coelho saiu quando tinha que sair do PSD para dar espaço a um novo ciclo. Assunção Cristas que, com muita vontade e sentido de serviço, sucedeu antes do tempo a Paulo Portas só pôde, depois do tempo, encerrar um ciclo político que se adivinhava como politicamente constrangedor.

E é aqui que nos vemos chegados ao Congresso do CDS que decorre em Aveiro.

Ouço distintos dirigentes insistirem nesta fatalidade ou síndrome de partido muleta que o CDS sempre foi. Defendendo um partido menos nítido, menos vertical, cedendo à opinião publicada que está na origem de tantos anos de nebulosa ideológica, bem personificada pelo incontornável “centrão” ou por uma gerigonça que se vai maquilhando de acordo com os mesmo ditames do “politicamente correcto”.

E tenho pena, sem querer personalizar, do desperdício de gente que fará falta a uma direita que, pela primeira vez e sem ser por acaso, tem desafios e concorrência no seu espaço político.

Todos fogem das comparações mas a verdade é que uma direita clara e defendida às claras, sem síndromes ou complexos de qualquer espécie, não pode ficar prisioneira do populismo e menor valia do Chega que se esgota no desassombro e mediatismo de um líder que mistura ideologia verdadeira com as verdades que se encontram no descontentamento de muitos.

Já a fuga às comparações com o Vox me parecem quase patéticas. O melhor que podia acontecer à direita em Portugal era conseguir ter políticos com a craveira e a densidade dos que hoje emergem em Espanha, quer num renovado Partido Popular, quer principalmente, naqueles que no Vox têm construído um discurso e um programa coerente e disruptivo de Direita, capaz de responder a muitos dos desafios e angústias das democracias modernas.

Regressando ao Congresso do CDS vejo, neste decisivo e histórico “prato da balança”, num dos lados, a esperança de um novo líder que representa, talvez pela primeira vez, uma rotura capaz de afastar o síndrome de sempre, ou, no outro lado, o desespero inquieto de um status quo que dificilmente pode ser credor do impulso de mudança de que o CDS tanto precisa.

Hoje ou ganha o CDS e a direita portuguesa ou ganha o Chega e, na espuma da sua fragilidade, a prevalência de uma duradoura hegemonia da esquerda em Portugal.