Num fim de semana chuvoso a minha conjectura para o futuro das eleições legislativas podia ser a de uma cínica maioria de direita, capaz de fazer governo, em cima de uma vitória eleitoral do Partido Socialista.

Mas não é dessa eventual geringonça de direita que quero falar mas de uma outra, medonha diga-se, que é a que fundamenta a falta de vontade dos lideres da direita instituída e dita fundadora da democracia de aceitarem, eles próprios, as regras da democracia e da alternância.

Ver Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos a quererem ganhar na secretaria, por de trás do “o que está dito está dito” de um imprevidente Presidente da República que acusa sinais precoces de incontinência, faz pensar que a direita é, também ela, capaz de inventar geringonças, para perpetuar os seus protagonistas no frívolo palco do poder.

O Pais saiu de “um faz de conta que somos maioritários” que sobreviveu uns surpreendentes seis anos para agora perceber que do lado da alternância, prevalecem os mesmos tiques do apego “geringoncico” ao poder. Ouvir Coelho Lima ou Anacoreta Correia defenderem desesperadamente a manutenção do status quo dispensando o que de mais elementar existe na cultura democrática que é o direito ao contraditório ou à legitimação do sufrágio, faz pensar que na política, afinal, os declínios de ética democrática são transversais a todo o sistema partidário que é provavelmente a principal morbilidade das democracias do futuro.

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Julgo que qualquer partido ganharia muito se sofresse uma chicotada psicológica ou uma profunda renovação de balneário. E talvez a única coisa interessante no futuro do sistema partidário possa ser que tal vai ocorrer na maioria dos partidos qualquer que seja o resultado eleitoral.

Sou dos que acham que não havia necessidade de numa altura como esta não continuarmos a fazer de conta. Por muitas razões, sobre as quais prevalece a da fragilidade quer sanitária quer económica que Portugal e o Mundo ainda arriscam.

Mas agora que se quer clarificar e falar verdade, então criem-se condições para que todos se apresentem de forma verdadeira e legitimada a um acto que é também ele de verdade e de legitimação.

Se o Partido Socialista pode governar plenamente, sem outros condicionamentos, até ao final do ano, então dê-se tempo ao tempo para que a democracia se não diminua e todos possamos escolher o futuro em liberdade.

A direita precisa de tempo para se regenerar e o País precisa de uma direita e também de uma esquerda regeneradas para enfrentar um ciclo novo, desconfinado de todos os constrangimentos e de todas as geringonças.

Uma vez mais que vença a liberdade!