A grande pergunta que se coloca nos dias de hoje é de facto quem quer ser árbitro em Portugal? Uma pergunta que surge num período marcado pela diminuição do número de árbitros e por fatores decisivos, tais como a violência e o número de agressões, o comportamento dos pais no desporto de formação e a falta de atratividade geral da profissão.
Quando pensamos sobre este tema precisamos de afunilar no futebol pelo destaque que vemos todos os dias na comunicação social, contudo este fenómeno começa a alargar-se a todas as modalidades e, mais que nunca, importa perceber se a profissão é atrativa para os jovens.
O primeiro aspeto relevante é, na minha opinião, a violência no desporto e o número de agressões a que se assiste no futebol, um aspeto que não se pode desconectar da vertente do comportamento dos pais no futebol de formação e o exemplo que esses estão a passar para os seus filhos.
Nos últimos anos temos observado uma escalada de comportamentos impróprios no desporto, desde jogadores a agredir os árbitros até aos próprios adeptos a agredirem árbitros e jogadores. Estes comportamentos acabaram por transitar também para a formação, contudo aqui entra uma lógica mais sentimental, onde os pais parecem viver mais o jogo do que os próprios filhos e, não conseguindo assimilar uma decisão, acabam por optar pela violência verbal e física como reação.
É nesses momentos a quente que eu penso: aquela criança vai ter mais consciência do que o seu pai? E, em momentos decisivos, de reação, com o sangue a ferver, começamos a perceber que as crianças vão seguir o exemplo errado dos seus pais.
Assim, começamos a falar de gerações que cronicamente vão agravar o problema ao invés de o resolver, e depois tudo culmina com certos comentários típicos da sociedade portuguesa, de que, por exemplo, a escola é que tem de resolver o assunto, de dar educação aos meninos.
A isso eu respondo, enquanto professor, que não sou responsável pela educação dos seus filhos, mas sim pelo conhecimento que eles adquirem. Posso dar-lhes o meu exemplo, mas o seu, enquanto pai, será sempre um exemplo com maior impacto.
Por fim, uma palavra também tem de ser destinada àqueles que dão a sua opinião sobre o desporto e essa palavra é empatia. Empatia significa uma identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa e a pergunta que faço a esses sujeitos é onde está a sua empatia para com o árbitro que está a desempenhar a sua profissão? Pergunto, ainda, se são perfeitos ou já erraram a executar a sua atividade profissional?
Concluindo, avanço para o aspeto da atratividade geral da profissão, e recorro a exemplos de árbitros de menor categoria que não podem viver apenas do rendimento obtido desta atividade. Esses são, cada vez mais, verdadeiros corajosos porque recentemente perderam o desempenho das suas funções nos jogos de futebol de sete e acabaram por perder uma importante fatia do seu rendimento semanal enquanto árbitros de futebol.
Retiro três ideias desta exposição temática. Primeiramente, a ideia de que o seu filho está a aprender e a seguir o seu exemplo, por isso tenha consciência das suas ações. Seguidamente, o pensamento de que todos erramos alguma vez na vida e os árbitros também tem o direito de errar. Finalmente, a conclusão de que eles estão a desempenhar uma profissão de risco crescente e, em muitos casos, fazem-no pelo gosto ao jogo.