Embora hoje em dia já pouco aconteça, a verdade é que num passado recente existiam muitas Quintas, ou casais agrícolas, modernamente explorações agrícolas, onde a figura e a responsabilidade do feitor era mais que evidente.

Ao Feitor eram atribuídas as grandes responsabilidades da gestão das atividades da Quinta, da respetiva coordenação laboral, dos recursos humanos permanentes, dos assalariados, etc. Era também responsável por uma boa parte das aquisições e vendas. Na realidade, o feitor tinha uma prestigiada tarefa e um poder determinante, para já não falar das influências que exercia a vários níveis.

Assim sendo, era normal que o feitor fosse escolhido, pelos proprietários, pelas suas qualidades e contratado pelas demonstradas capacidades, ou seja competências de gestão na componente agrícola e dos recursos humanos. Mas deveria ser, sobretudo, um homem de confiança e um exemplo de liderança, educado e com valores.

Sendo-lhe confiadas grandes responsabilidades, também lhe eram apresentados grandes desafios, nomeadamente gerindo de forma produtiva os recursos de que dispunha. Se não demonstrasse, na prática, as qualidades inerentes e não apresentasse resultados evidentes, poderia correr o risco, ou melhor, ter certeza, de vir a ser despedido, ou substituído. Interessava, também, que conseguisse dar uma imagem social sustentada no âmbito do prestígio contextualizado.

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Não obstante todas essas atribuições, não era, de facto, o dono da quinta.   Tinha regras definidas a cumprir e aos patrões contas a prestar. Governava-se na quinta e da quinta, mas não pagava a décima, na Repartição de Finanças, que agora se designa como IMI. Todavia, nalguns casos, autoritário em demasia, contratava e despedia trabalhadores, jornaleiros, de acordo com a sua vontade e prepotência, e que nem sempre tratava com educação e respeitabilidade, para não dizer seriedade.

Dizia eu que esse tempo dos Feitores, sobretudo no Nordeste Transmontano, pertencerá ao passado, no que toca à atividade agrícola. Porém, noutras áreas de atividade do nosso quotidiano, não obstante terem já passado mais de quatro décadas e meia de anos após a Revolução de Abril de 1974, e de democracia, em Portugal, parece ainda existirem por aí muitos “feitores”, nomeadamente no âmbito da gestão de organismos públicos e Instituições de Solidariedade Social. Até pode parecer ironia, mas não deixa de ser verdade.

Uns eleitos, sabe Deus como (em muitos casos com sufrágios muito pouco claros e antecipadamente viciados/manipulados à maneira da ditadura, e outros nomeados, uma boa parte das vezes, sem se ter tido em conta o perfil adequado, nem validadas as competências para o cabal desempenho organizacional e funcional, acabam por vir a protagonizar gestões que deixam muito a desejar, mas que poderes políticos, institucionais e judiciais, não se importam de investigar, acabando por ter uma postura de omissa negligência, para o povo baralhar.

Ancorando-se num contexto de legal nomeação para o cargo, comportam-se como se as instituições que, temporariamente lideram, se tivessem tornado numa “quinta própria” a seu belo prazer gerida e dirigida. Ou melhor, como se fossem legítimos donos da “quinta”.Mandam, fazem, desfazem, controlam de tal forma que nenhum “súbdito” pode questionar a sua capacidade de liderança, esquecendo-se de que, em qualquer organização, o essencial são sempre as pessoas, a sua motivação, ajuda, reconhecimento de mérito, vontade de promover relações laborais e sociais saudáveis, no sentido de, em conjunto e convergência participada, serem conseguidas realizações, objetivos e resultados que acrescentem valor, favoreçam o bem-estar laboral, giram alegria e potenciem a felicidade.

Mas também há casos de “perfeitas dinastias sociais”, onde, além dos lideres, que parecendo insubstituíveis se perpetuam no tempo, colocam em devido tempo familiares que também reinam, mandam, comandam, manipulam, envenenam tudo à sua volta e infernizam os ambientes como “mulas à solta”.

Numa sociedade democrática ativa, desenvolvida e humanamente dirigida, cada vez mais vocacionada para o sucesso, baseado numa forma de gestão, onde a liderança deve ser reconhecida naturalmente e não imposta arbitralmente, importa que alguns dirigentes deixem de se comportar como “feitores” e se afirmem como saudáveis gestores e prestigiados “senhores”.