Num estudo foi publicado que as mulheres doutoradas ganhavam menos que os homens licenciados. O estudo não comparou também os vencimentos dos doutorados, homens e mulheres, que trabalham no Estado (Ensino ou Investigação), com os licenciados que trabalham na “privada” se o tivesse feito veria que não há certamente diferenças, já que os homens com doutoramento no Estado também ganham menos que os licenciados. Também poderiam fazer um estudo comparando os rendimentos dos doutorados, no Estado, com o vencimento de um canalizador ou de um electricista, ou mesmo de um pedreiro que trabalhe por conta própria e chegariam à mesma conclusão, que um doutoramento não é garantia de um rendimento superior.

A questão dos vencimentos é analisada só à luz da espuma dos dias, das desigualdades “de género” ora devemos olhar para os vencimentos como problema de fundo, os portugueses ganham pouco, em particular os mais habilitados, relativamente aos congéneres europeus. A pergunta que se deve então fazer é se a formação que produzimos, independentemente do sexo, é aquela que o mercado valoriza. E por outro lado, como valorizar a formação que por razões políticas ou estratégicas, ou ambas o país necessita. Quando líderes partidários criticam a redução de impostos, forma simples de fazer subir um pouco esse rendimento vemos que a solução, se existir, não vai ser fácil.

Há uma tendência na política em criar fases para serem replicadas nas caixas de ressonância dos meios de comunicação social. Uma conhecida é a que foi produzida a geração mais preparada de sempre. Só que entendem por preparação a estatística de graus ou formações. Não temos dúvida que nunca houve tantos a concluir o secundário, mas a pergunta é se conseguem fazer alguma coisa com ele. E mais tarde com uma licenciatura. E se, ainda mais tarde, os doutorados sobreviverão apenas à custa de bolsas, sem qualquer garantia de vinculo.

Qual o pecado original? se olharmos aos rankings anuais das escolas que tanta urticária provocam e que saíram agora, os “analistas”, mais uma vez, comparam o que consideram ser “o” problema, umas são privadas e outras são públicas. E há de facto diferenças, mas a principal, de que decorrem as diferenças nos resultados dos exames, é que, nas privadas, só vão a exame os alunos preparados. Os impreparados foram chumbando e repetindo os anos ou as disciplinas em que fraquejavam até estarem em condições de passar nos exames. No Estado isso deixou de acontecer. O terror para as escolas que é chumbar um aluno, perdão, reter, leva a que a água benta seja distribuída sem parcimónia.

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De acordo com os dados recentes, 96% das escolas públicas tiveram negativa a matemática e no 9º ano 58% dos alunos chumbaram a matemática.

Estamos num mercado global e na era mais tecnológica de sempre, países como a China ou a India produzem em quantidade técnicos altamente preparados desde a mais tenra idade, é com eles que vamos competir.

Até aos anos 70 muitos jovens acabavam a sua “vida académica” na 4ª classe, pelo que o sistema tentava que ficassem o mais bem preparados possível. O ensino era exigente, demasiado, incluía reguadas, canadas e castigos, mas nem da 1ª classe os alunos passavam se não cumprissem o programa estabelecidos. Empresários como Rui Nabeiro tiveram apenas essa formação. Hoje a norma é o oposto, não chumbar, corrijo, não reter a criança para não a traumatizar e sobretudo para não ter de aturar os pais. Ora não é assim que vamos preparar o futuro quando competimos num mercado global.

Toda a inflação é prejudicial à vida, mesmo a inflação de notas e o regresso às passagens administrativas.

A grande diferença entre o ocidente e o oriente, é que no oriente a educação dos filhos é a única prioridade das famílias.

Dos “actores” do “processo educativo”, temos, os sindicatos, agora 2, para resolver os problemas dos seus clientes, os professores; os pais que se preocupam, mas sobretudo com a imagem que idealizaram dos filhos, que os querem passados e com boas notas, os ministros que se preocupam com o seu eleitorado (pais e professores), a pergunta é quem é que se preocupa com o futuro das crianças que também é o nosso?

Está mais que na hora de invertermos esta realidade.