O projecto de reconstrução da direita, como bem aponta Luís Rosa no seu artigo, terá de assentar no estabelecimento de objectivos ambiciosos, quer a nível da organização do Estado, quer da sustentabilidade da Segurança Social e de políticas que libertem indivíduos, famílias e empresas do jugo fiscal insuportável. Contudo, para se chegar a um ponto de partida em que tais objectivos políticos com enorme repercussão económica possam ser apresentados ao eleitorado, é necessário conquistar a disponibilidade do eleitor para compreender o que estará, nessa altura, em jogo.
O projecto de poder do Bloco de Esquerda, para lá do acesso a órgãos de decisão e regulação, tem um ingrediente de longo prazo — que vai produzindo frutos — e que consiste em balizar o discurso moral numa admissibilidade permitida apenas por interpretação maleável da ética. O partido contém toda uma estética revolucionária que alia a inevitável “construção de um mundo melhor” com o princípio de um antigo proletariado que se aburguesou: não é discurso para descamisados e sim para o marxismo de elites académicas, que o propagam como que polinizando estudantes para uma militância, muitas vezes sub-reptícia, outras com repercussão no próprio partido (p. ex., na atribuição de bolsas de investigação que sejam adequadas à “ciência partidária”, produzindo trabalhos que realimentam a máquina de causas de agitação social). O chamado caso Robles, mais que sintomático do extravio de virtude ideológica, assinala o quão a nova esquerda abraça o capitalismo crony desde que sob a alçada do partido. Desta forma, não há verdadeiramente diferenças substanciais entre o BE e o PS, sendo que bloquistas se distinguem apenas pela oportunidade de vanguarda estética, apresentando propostas num ambiente de teste perante um eleitorado homogéneo, até que se instalem progressivamente pelo eleitor PS, mais heterogéneo. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, momento em que são, pela mão do PS, alegremente implementadas perante gritaria pouco matutada da Direita.
A Direita tem a dificuldade acrescida da sua estética ser definida pela esquerda através do balizar do discurso moral que anteriormente referi. “Ser de direita” ou “ser fascista” são passados como sinónimos, colocando sempre o princípio moral da esquerda como o de uma luta do Bem contra o Mal. Não é possível discutir políticas de imigração (nomeadamente se há sequer um problema de imigração) sem ser etiquetado como xenófobo, assim como não é possível discutir questões sociais — como se um grupo é efectivamente discriminado — sem as etiquetas de machista, racista ou homofóbico (este último, um termo curiosamente cunhado para designar medo do que é igual). Não há vitória argumentativa nem há retórica dotada de ethos, há apenas pathos, um sentimento de superioridade por quem se classifica como estando do lado do Bem que aniquila inexoravelmente o debate democrático. Tal justifica-se porque derrotar o Mal é um fim que justifica qualquer meio.
O que a Direita tem de fazer para chegar ao ponto de poder disputar eleições federada como verdadeira alternativa ao grande muro de esquerda que denominamos por Geringonça — que é o que defende o Mov5.7 — é rejeitar o controlo da cultura da própria linguagem imposto pela facção culturalmente armada do Bloco de Esquerda. Para tal, tem a Direita de criar corpo cultural — em revistas, em jornais, nas redes sociais, nas artes e no entretenimento, em suma, na vida — que rejeitem a estética esquerdista que consiste em vender glamour na desgraça, algo que fazem sem pejo sobre o Brasil ou sobre a Venezuela. Quando o começarmos a fazer, estaremos prontos para enfrentar a eleitoralmente a esquerda como verdadeira alternativa e não como mero varredor de serviço dos estilhaços das políticas devassadoras de geringonças.