República dos bananas

  1. Pedro Nuno Santos tentou um truque, ou talvez não. O ministro que quer ser líder do PS sacou da cartola a decisão que o país espera há cinquenta anos. Era mal-amanhada e mal preparada, mas era uma decisão. Era, porque não chegou a ser. O Primeiro-ministro – verdade ou mentira – foi apanhado de surpresa e mandou o ministro recolher à boxe. O corajoso ministro pôs a violinha no saco e apareceu como um menino arrependido a pedir desculpa ao país. Antes, disse que não tinha satisfações a dar ao Presidente e muito menos ao PSD. No fim da história, apareceu um banana na televisão a pedir desculpa e a dizer que está muito arrependido.
  2. O Primeiro-ministro foi apanhado de surpresa – diz ele – pelo decreto que o seu ministro das infraestruturas acabara de publicar em Diário da República. Em vez de um telefonema ao ministro a dizer “Já não és ministro!”, mandou um comunicado para as redações a dizer que ia mandar retirar o despacho. Chegado a Lisboa, ou porque sabia da decisão e quis recuar, ou porque de facto não sabia, teve medo de deixar o Pedro Nuno à solta, fora do Governo, e preferiu ceder à pressão do ministro: “eu não me demito, demita-me você se tiver coragem!”. António Costa não teve coragem e deixou-o ficar. No fim da história, o Primeiro-ministro, banana, deixou que o país percebesse que tem medo do ministro Pedro Nuno.
  3. O Presidente da República foi apanhado de surpresa pelo anúncio de uma decisão que o país espera há cinquenta anos. Foi enxovalhado por um ministro qualquer que veio à televisão dizer com todas as letras que não lhe deve satisfações. No dia seguinte, fica a saber que o ministro nem ao seu chefe, o Primeiro-ministro, deu satisfações. Marcelo Rebelo de Sousa assistiu durante vinte e quatro horas a uma guerra de comadres com decisões e contra decisões sobre a decisão do novo aeroporto de Lisboa. Os oponentes eram nada mais nada menos do que o Primeiro-ministro e um dos seus ministros. No fim, o caso é encerrado com o ministro a dizer que fez maldades e promete não voltar a fazer. O Presidente passou por banana ao deixar que tudo ficasse na mesma depois deste episódio. Os portugueses esperam que um Presidente da República não deixe um qualquer ministro brincar com o país, seja ao fim de um dia, seja ao fim de três meses de Governo.

Quando não havia bananas:

  1. Jorge Coelho viu cair uma ponte que teve como consequência a morte de dezenas de pessoas. Era ministro do equipamento e tinha responsabilidade política sobre aquela infraestrutura. Na própria noite em que o caso aconteceu, chamou os jornalistas para dizer que, como ministro responsável, obviamente se demitia.
  2. No auge da sua maioria absoluta, Cavaco Silva vê-se confrontado com uma alegada fuga fiscal do seu ministro das finanças. O ministro em causa era um ativo competente e fundamental no Governo de então. Apesar da sua competência, Miguel Cadilhe ia ficar fragilizado e incapaz de cumprir com eficácia as suas funções. Cavaco Silva demitiu-o.
  3. Jorge Sampaio era Presidente da República quando o país assistiu à polémica da Fundação para a Prevenção e Segurança, que envolvia um secretário de estado muito próximo do Primeiro-ministro António Guterres. Armando Vara, secretário de estado da segurança interna, tinha criado uma fundação no âmbito do seu ministério para onde canalizava competências, financiamento e amigos. O chefe do Governo tentou esvaziar o caso e manter o ministro. Jorge Sampaio chamou Guterres a Belém e exigiu-lhe a cabeça de Armando Vara. Guterres, encurralado por Jorge Sampaio, não teve alternativa e indicou a porta de saída ao seu delfim.

PS: Na passada sexta-feira, dia 1 de julho, morreu o Padre António Vaz Pinto. Estranhos tempos estes em que, ao mesmo tempo em que assistimos ao enfraquecimento das instituições e do nosso país, como descrevo acima, perdemos referências que marcaram para a vida várias gerações nas últimas décadas. O Padre António foi O Jesuíta da minha vida. Nunca andei muito pelas suas obras, era uma filha do Padre João Seabra (desaparecido no dia 3 de junho), mas devo ao Padre António Vaz Pinto a curiosidade da fé verdadeira numa altura em que a minha fé fraquejava. Fascinou-me aquela inteligência, alegria, liberdade e capacidade de atrair muitos jovens promissores e criativos, numa altura em que andava perdida. A boa impressão foi de tal forma que lhe fui confessar que a minha fé tinha ficado na infância. No fundo, fiquei provocada, não por ele, mas pelo que ele trazia aos que o rodeavam, havia ali qualquer coisa que sentia que me faltava. Não esqueço que naquela conversa na Rádio Renascença, onde eu trabalhava e ele era capelão, o que me disse foi o suficiente para me deixar desperta para descobrir a fé adulta. Devo-lhe isso, que não é pouco. É a única razão e motor da minha vida. Ao longo dos anos, fomo-nos cruzando e sobretudo fui-me cruzando com as suas obras e as suas sementes. Tudo boas obras para as pessoas, para o país e para Deus. Aquele a quem ofereceu a vida. Obrigado, Padre António.

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