A Madeira lançou a campanha “Portugal Tropical” para promover o turismo na região. Aproveita o facto de o clima, a geografia e a flora do arquipélago serem iguais aos dos paraísos tropicais para atrair turistas que, não podendo viajar até esses sítios longínquos, vivem a mesma experiência em plena Europa. Trata-se de uma estupenda ideia, sobretudo porque o seu potencial não se esgota aqui.
“Portugal Tropical” vai atrair turistas portugueses à Madeira, é certinho. Mas, bem trabalhada, a campanha também vai conseguir atrair turistas europeus a Portugal Continental. Não pelo clima ou vegetação tropicais, que não os tem, mas pela actualidade política, que faz lembrar a dos países caóticos que se situam entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio.
Se um turista europeu tiver vontade de visitar uma dessas bandalheiras em forma de país, sem correr o risco de frequentar o Terceiro Mundo, vem a Lisboa. Quer ver um Governo que, em plena pandemia, resolve organizar um torneio de futebol? Não precisa de ir ao Uganda, vem cá. Gosta de assistir a um presidente a anunciá-lo em directo? Esquece a Guatemala, vem cá. Deseja presenciar à transição directa de um Ministro das Finanças para o órgão regulador do sistema bancário? Evita a Venezuela, vem cá. Acha graça visitar uma freguesia cujo presidente não eleito é filho do Primeiro-Ministro? Salta a Guiné Equatorial, vem cá. Interessa-se por regimes que têm regras draconianas para o povo e para os mais jovens, e outras, mais lassas, para as elites e os amigos políticos? Escusa de ir a Angola, vem cá. Tem curiosidade em conhecer um organismo de saúde pública que se contradiz diariamente porque está mais interessado em servir o Governo do que em seguir a ciência? Borrifa no Zimbabué, vem cá. Sempre sonhou em conhecer um empresário sem qualquer ligação ao Governo, que é convidado pelo Primeiro-Ministro para organizar a economia desse país? Poupa-se às Honduras, vem cá.
Quem gosta dos trópicos tanto é atraído pela transparência das águas da Madeira, como pela opacidade da política de Portugal Continental. Da mesma forma se pode visitar um parque da Disney sem sair da Europa, indo à Eurodisney, e pode-se visitar uma República das Bananas sem sair do Espaço Schengen, vindo à Eurobananas.
Agora é esperar que os operadores turísticos criem pacotes de férias carregados de balbúrdia política para cativar os visitantes. Uma escapadinha de fim-de-semana chega para se ficar com um cheirinho a subdesenvolvimento. No sábado de manhã assiste-se a uma cerimónia de recepção de 550 máscaras da China com a presença do Presidente da República, do Presidente da AR, de 17 membros do Governo, autarcas dos 42 municípios que vão receber as máscaras, 9 discursos congratulatórios, hino, parada militar e voo rasante da esquadrilha de F-16. À tarde, visita a uma manifestação anti-capitalista autorizada e acompanhada pela polícia, seguida de visita a ajuntamento de jovens não-autorizado e reprimido pela polícia. No domingo de manhã, nova cerimónia presidencial. Desta feita, o anúncio, em lágrimas de júbilo, da escolha de Portugal como depósito de dejectos de elefantes, rinocerontes, hipopótamos e outros mamíferos de grande porte, uma distinção que muito nos lisonjeia, pois prova que a Associação Europeia dos Motoristas de Transporte de Dejectos de Elefantes, Rinocerontes, Hipopótamos e Outros Mamíferos de Grande Porte reconhece Portugal como país seguro. Antes de partir, ainda há tempo para a conferência de imprensa da DGS, onde se revela que não há perigo de contágio de Covid em comícios políticos, porque isso foi garantido num decreto-lei novinho em folha.
Falta só declinar o slogan original, “se não fosse tão perto, iria achar que é muito longe”, para “se não fosse aqui, diria que é o Burundi”. Agora é esperar pelos turistas.