Os confinamentos, recolher obrigatório e outros constrangimentos trazidos pela pandemia vieram salientar a necessidade de as empresas estarem atentas às alterações do comportamento dos consumidores, urgindo uma adaptação rápida a alterações do mercado.

Isto não é algo inédito e que deva ser encarado como uma consequência dos novos tempos. Pelo contrário, é um alerta que os negócios devem ser geridos sempre tendo em mira as necessidades dos consumidores. Esta alteração do status quo, encarado de forma negativa pela generalidade das empresas, pode ser vista também como uma possibilidade de adaptação a novas oportunidades de negócio, instando uma reinvenção daquilo que, até agora, não passava de “ideias para o futuro”.

Veja-se, por exemplo, a educação: se no início do ano se tivesse abordado as escolas e universidades com a indicação de que teriam que começar a oferecer a totalidade das suas aulas em regimes híbridos ou remotos, a reação teria sido explosiva. Estou absolutamente certa disso, enquanto docente do ensino superior e coordenadora de vários programas. No entanto, a capacidade de adaptação do corpo docente, de todos os níveis de ensino, revelou-se extraordinária quando perante as adversidades de um confinamento forçado. Os professores, cientes da sua missão de educar e transmitir conhecimento às gerações vindouras muniram-se de todos os meios possíveis e usaram a sua criatividade para conseguir continuar a sua missão de uma forma louvável.

O mesmo se passa com muitas empresas. No meio deste período conturbado e considerado nefasto pela grande parte das empresas de serviços, nomeadamente a restauração e hotelaria, muitos negócios reinventaram-se no sentido de prestar um conjunto de serviços valorizados pelos consumidores: desenvolvendo serviços baseados em plataformas digitais, outros oferecendo serviços fortemente assentes na conveniência, cada um puxando pela sua imaginação. Mas isto só foi possível quando tentaram perceber os desejos e necessidades dos seus clientes.

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Foi com isto em mente, que este ano lancei um desafio específico aos meus alunos de mestrado. Desafiei os alunos a procurarem empresas que, quer pelas novas regras de funcionamento, quer por constrangimentos verificados a nível de procura, estivessem a ter uma retração na sua performance habitual. Depois de identificar as empresas, os alunos deveriam sugerir estratégias que permitissem às mesmas ultrapassar este período conturbado.

A reação e qualidade das sugestões foi notável. Desde a sugestão de adaptação de hostels, que viram a sua procura dramaticamente reduzida, a apartamentos de arrendamento de longa duração para alunos internacionais  e espaço de estudo para estudantes, ao reinventar das empresas de aluguer de automóveis, focando-se na oferta de serviços para aqueles que precisam de carros de aluguer por curtos períodos de tempo – para percorrerem a distância de casa para o trabalho, por exemplo, porque não querem usar transportes públicos -, as ideias foram mais que muitas. E todas centradas num ponto essencial: a necessidade de olharmos para os “novos” consumidores, perceber as novas necessidades e desejos e não ter medo de inovar, oferecendo novos serviços e produtos.

Apesar de todos nos queixarmos e lamuriarmos (não fossemos nós um povo marcado pelo fado dramático), um facto é que muitos seguimos em frente, cruzando as ondas da tempestade com as mangas arregaçadas e com vontade de descobrir novas formas de navegar. Podemos ter perdido o Norte momentaneamente, mas tentámos manter-nos à tona da água, reinventando negócios e formas de estar no mercado.