O PS não aprende, não há nada a fazer. E se com os partidos funcionarem as mesmas regras que com as pessoas, já entrou naquela idade em que os defeitos se cristalizaram e não desaparecerão. Pensava toda a gente que depois de gritarem histericamente que havia vil cabala, perseguição do ministério público e dos juízes, quase a ponto de desmaiarem e necessitarem de sais de frutos, a propósito do caso Sócrates, o PS tinha aprendido. Se não a lidar com as investigações judiciais, pelo menos a fingir perante os eleitores que sim, que já percebem que o MP não acusa sem fundamentação. Que humildade e contrição seriam o caminho, não continuarem furiosamente a vociferar por conspirações judiciais visando o virginal e imaculado PS. (Reviremos os olhos.)
Contudo se este clamor por uma conspiração vitimizando o PS pode ser somente retórica de defesa conjuntural (à falta de melhor), já a argumentação associada é das que desgasta e esboroa a qualidade da democracia e do escrutínio.
É conveniente dizer muitas vezes as frases seguintes. Não, as questões judiciais que envolvem políticos não são apenas questões de justiça. Sim, questões de justiça – investigadas e acusadas ou não pelo ministério público – permitem avaliações e consequências políticas. Não, não é somente o que se prova em tribunal que de facto aconteceu neste mundo tridimensional entre o céu e a terra. Não, não temos de esperar por uma sentença transitada em julgado para retirarmos consequências políticas do que quer que seja. (OK, momento para soltarem uma gargalhada pela ousadia desta tentativa de argumentação, num país onde o julgamento de José Sócrates ainda nem começou.) Não, política e justiça não atuam no mesmo nível e uma não é impeditiva da outra. Justiça trata de provar além de dívida razoável se alguma ilegalidade ocorreu, e, se prova dentro dessas necessariamente estreitas regras, sanciona de modo danoso para os culpados. Política avalia se um detentor de um cargo público agiu contra o bem-comum e se lesou as instituições que deviam preservar. Para a justiça conta a lei; para a política conta a defesa dos interesses da população portuguesa.
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