Sexta-feira 13. A superstição enraizou-se na cultura popular e a data tornou-se propícia a conotações negativas e ao rogar de pragas. Não destoa por isso lembrar que grande parte de nós sente que o custo de vida está cada vez mais alto e muitos têm a sensação de que já viveram melhor no passado, ou que noutros tempos a sua qualidade de vida não seria pior. Porém, assim como muitas outras crenças dominantes na sociedade, tal está longe de ser verdade.

Sabemos que apesar do enorme crescimento da população mundial, não só baixou a percentagem de pessoas que vivem em condições de pobreza como também o número absoluto de pobres desceu. O padrão de consumo de pobres e ricos é mais semelhante. Basta pensarmos nas diferenças que havia em Portugal há uns anos entre quem tinha e não tinha acesso a frigorífico, televisor, automóvel, computador, telemóvel ou férias no estrangeiro, cinema e internet. A qualidade dos bens baratos melhorou mais rapidamente do que a dos mais caros. Simultaneamente, em termos relativos, baixaram substancialmente mais os preços dos bens consumidos pelos pobres do que dos bens e serviços consumidos pelos ricos. O luxo tornou-se mais democrático e os pobres de hoje são os ricos de ontem.

Convém lembrar que apesar de a prosperidade económica ser normalmente medida em termos do rendimento e riqueza familiares, o bem-estar económico das pessoas pode melhorar pelo aumento do rendimento e/ou pela redução dos preços.

O projecto HumanProgress compila dados curiosos sobre a realidade Americana, mas que poderão ser transpostos (pelo menos em tendência) para outras geografias como Portugal, nomeadamente quanto ao tempo necessário uma pessoa trabalhar para receber em salário o suficiente para comprar certos bens. Assim, chega-se à conclusão de que o custo de um ar-condicionado desceu 97% desde 1952 ou de que em 1920 seriam necessárias 60 horas de trabalho para pagar 5 meses de uma luz de leitura doméstica, enquanto que em 1990 o mesmo tempo de trabalho assegurava 10 anos de uma lâmpada acesa e, hoje, mais de 50 anos. Mesmo considerando apenas a evolução dos rendimentos de trabalho das classes menos favorecidas, temos exemplos esmagadores como uma baixa de quase 90% do preço de uma lata de feijão, de 70% de um bife ou de 95% de um quilo de arroz.

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E o acesso a bens e serviços com características e funcionalidades muito superiores faz-se cada vez a um ritmo mais acelerado. Demorou 50 anos desde a invenção do telefone para que metade dos lares tivessem um, mas foram precisos apenas 12 anos desde o aparecimento dos smartphones até que metade da população deles usufruísse.

Além disso, outras dimensões de “qualidade de vida” poderiam ser acrescentadas à medida das estritas condições materiais e é isso que faz o Pordata no seu “Índice de Bem-Estar” que, aliás, tem uma clara tendência de melhoria ao longo dos anos em Portugal.

Aqui os estatistas e socialistas que, quiçá por distracção, estejam a ler este artigo não deixarão de me apontar uma aparente contradição. Deduz-se do acima exposto que a maior intervenção do Estado que se verifica hoje na sociedade, a carga fiscal mais elevada de sempre, a omnipresente “regulação” dos mercados e pródiga legislação sobre múltiplos aspectos da vida das pessoas, conduz a que os Portugueses vivam melhor.

Errado. Vivemos melhor apesar disso. Sublinho: “apesar”.

A imagem de que os Portugueses têm de trabalhar todos os dias do ano até 15 de Junho apenas para pagar os impostos devidos ao Estado é disso ilustrativa. Ou seja, só a partir do 166º dia do ano é que têm verdadeiramente acesso a rendimento líquido para consumir, poupar ou investir a seu critério individual. Não fosse este espartilho suficiente mau, uma vez que o rendimento que o Estado retira coercivamente às pessoas não chega para cobrir o apetite do monstro, cada português tem hoje o equivalente a uma dívida acumulada de cerca 25.000€, mesmo depois de cumpridas as suas obrigações fiscais.

É pois fraco consolo saber que a inovação, os avanços tecnológicos, o comércio internacional e a liberalização económica global mitigam o triste fado a que as políticas socialistas dos sucessivos governos nos têm destinado. E penoso é perceber que se não fosse o assalto do Estado ao bolso dos contribuintes, a rigidez regulatória, o condicionamento da concorrência, os interesses instalados da corte ou o sorvedouro interminável de dinheiro para obras e serviços públicos totalmente inúteis, poderíamos viver bem melhor.

Poucos têm disponibilidade psicológica ou intelectual para compreender o que não se vê para além da computação do índice de bem-estar. Trata-se de uma minguada ambição de vida e uma deserção das responsabilidades perante gerações futuras. E com isto me dou conta de que enquanto escrevia este texto mudei de opinião: afinal temos azar!