Vai-se queixando o povo – o que não é de agora – a respeito da estagnação do país. Diz-se que as coisas não se encaminham para melhor, pelo contrário. Sucedendo tal em diversos setores sociais como se exemplifica pela saúde, pela educação e pelos incêndios que anualmente se repetem no nosso território.
No que concerne com a primeira, as urgências vêm-se mostrando encerradas ou com anomalias de funcionamento, resultante da carência de quadros, o que fustiga as áreas mais remotas. Acompanhando-se da sobrecarga dos horários de trabalho, que despoletam pertinentes preocupações a respeito do acesso à saúde e da capacidade do SNS atender às populações.
Em pleno ano de 2024 e na continuidade do parco trabalho até aqui executado, também a educação persiste sem se priorizar nas agendas dos nossos governantes, existindo uma clara e acentuada escassez de docentes, consubstanciando-se bastante para afetar toda a classe empregadora.
No plano da floresta, confirma-se a ininterrupção da política de assobiar para o lado e meramente surgir a preocupação quando pouco resta por queimar. Os vencimentos dos bombeiros não são – nem de perto e ainda que pouco os aumentem – proporcionais à missão a que se propõem, juntando-se a isto uma ausência de políticas de prevenção, fiscalização e vigilância.
Muitos são os que apregoam, entoando com surpresa, que os anos passam e tudo permanece idêntico. Porém, seria a mudança expectável se continuamos com os mesmos decisores há décadas?
Luís Montenegro, o atual Primeiro-Ministro, acumula as funções com presidente do Partido Social Democrata, tendo já sido líder do grupo parlamentar do mencionado partido e começado por ser deputado à Assembleia da República no longínquo ano de 2002, ou seja, há sensivelmente 22 anos.
Na legislatura seguinte – com início no ano de 2005 – Pedro Nuno Santos estreou-se nas funções de deputado à Assembleia da República, curiosamente eleito pelo mesmo círculo distrital que o adversário político, funções que foi alternando com as de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Ministro das Infraestruturas e da Habitação da República Portuguesa.
Ventura chega a deputado pela primeira vez em 2019, não há tanto tempo quanto os seus opositores, mas há consideráveis 5 anos. No entanto, anos antes do cargo em representação dos interesses da nação, o político depositava os seus interesses em Loures, tendo sido Vereador da respetiva Câmara Municipal.
Em idêntica senda, Mariana Mortágua foi eleita deputada à Assembleia da República pela primeira vez em 2011, verificando-se fácil de solucionar a equação que atribui – pelo menos – 13 anos destas fainas à atual coordenadora nacional do Bloco de Esquerda.
Posto isto, facilmente se depreende que os portugueses vivem reféns de uma expectativa de mudança e renovação completamente ilusória. E assim se prevê que continuem, uma vez que os jovens na política – na generalidade e salvo raras e boas exceções – não possuem irreverência e rasgo, mostrando-se a protagonizarem personagens que se regem pelo discurso de partidarismo fanático, carentes de criatividade e repelentes à convergência.
Este fanatismo é outros dos fatores que contribuem para o nosso retrocesso, devendo Portugal ser dos poucos países onde todos os líderes partidários defendem ter razão em todos os assuntos – sem exceção – evidenciando quão errados os adversários sempre estão.
Posto isto, as posições políticas e matérias relevantes para o quotidiano e desenvolvimento do país acabam sempre por ficar em segundo plano quando preteridas pelas birras que os representantes do hemiciclo parlamentar performam.
Desta forma, terminamos como sempre: a observar a troca de galhardetes e as jogadas políticas entre os que elegemos, enquanto as urgências permanecem encerradas, as crianças sem professores e a vasta área florestal arde intensamente.
Continuo sem compreender como é que os elencados – e muitos mais – têm tantos anos e tanta experiência de vida pública e política, porém suscitam a dúvida quando pelos respetivos comportamentos parecem que somente figuram nestas lides desde março.