Até Trump chegar à Casa Branca, seria impensável imaginar um Presidente norte americano sentir-se mais próximo de Putin do que de Merkel. Putin é um ditador que preside a um regime autoritário, tendo como hábito mandar assassinar ou envenenar os seus adversários políticos, e cujo poder assenta nos serviços de informação herdeiros da antiga KGB. A Rússia não é governada por um partido político, mas sim por espiões.

Merkel é a Chanceler de uma das democracias com maior qualidade na Europa. É uma líder moderada, competente, impecavelmente fiel aos valores fundadores do Ocidente. Ora, o Presidente dos Estados Unidos sente mais afinidades políticas com o ditador russo do que com a líder da maior democracia europeia. Isto diz tudo sobre a tragédia política que se abateu sobre os Estados Unidos desde que Trump foi eleito. Trump traíu os valores essenciais das democracias liberais.

Mas há ainda uma outra razão repugnante que explica a proximidade a Putin e o desprezo que Trump mostra por Merkel. O Presidente norte americano acha que uma potência deve ser governada por homens como ele e Putin, e não respeita uma líder política mulher. Um exemplo desgraçado de machismo político.

Para os leitores perceberem o que está em causa, recorro a um exemplo da nossa política interna. O PCP é o partido português mais próximo de Putin, ou aquele que menos o critica. Seguramente, ataca muito mais vezes Merkel do que o Presidente da Rússia. O PSD e o CDS estão obviamente muito mais próximos de Merkel do que de Putin. Ou seja, em relação à Rússia e à Alemanha, Trump está mais próximo das posições do PCP do que dos partidos da direita portugueses.

A atitude de Trump só tem uma virtude. Mostra o embuste de quase toda a esquerda portuguesa quando, durante o governo de Passos Coelho, tratava a Merkel, como uma “fascista” ou, no melhor dos casos, uma “capitalista profundamente egoísta.” Percebem por que razão ninguém pode levar a sério as esquerdas quando chamam “fascista” a algum político? A quem passaria pela cabeça chamar “fascista” a Merkel, a não ser à extrema esquerda, como o Bloco e o Podemos, ou a políticos profundamente desonestos como alguns dos sectores mais radicais do PS? Aliás, quando o PS chegou ao governo, e Merkel deixou de trabalhar com Passos Coelho e passou a colega de Costa, transformou-se imediatamente, para os socialistas, numa grande líder europeia.

Voltando aos Estados Unidos, as eleições de Novembro são as mais importantes desde que Reagan derrotou Carter. Também agora está em causa o futuro do mundo livre. Mas desta vez, é a vitória do candidato democrata, e não do republicano, que salvará a aliança ocidental. Se Trump foi reeleito, duvido que a NATO sobreviva, e não sei mesmo como será o futuro da União Europeia. Mais quatro anos de Trump na Casa Branca, significaria os Estados Unidos, a China e a Rússia a trabalharem activamente para a fragmentação e a divisão da União. Neste momento, é irrelevante se Biden é o candidato perfeito. Em política, raramente existe o candidato ideal. Mas Biden é o melhor pela simples razão de que é o único que pode evitar uma nova vitória de Trump.

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