A esperança de um fim rápido para esta crise, se houvesse, esfumou-se esta semana.

As notícias das variantes que têm surgido associadas a dúvidas sobre a duração da imunidade fazem recear que esta crise se prolongue mais do que muitos imaginávamos. Ainda que seja possível aumentar a velocidade da vacinação, poderá já não ser possível atingir a imunidade de grupo este ano, mas talvez seja possível reduzir a capacidade de mutação do vírus. Os virologistas tinham avisado que este vírus ficaria muito tempo connosco, mas consequências desse facto é que não eram inteiramente óbvias.

É neste cenário que os atrasos na vacinação, que conduziu a trocas de acusações entre a União Europeia e a farmacêutica AstraZeneca, se tornam especialmente preocupantes. A resposta da Comissão de proibir de exportações de vacinas, embora seja atendível devido à insuficiente velocidade de vacinação na Europa, irá causar problemas de fornecimento no mundo inteiro, acentuando a possibilidade de se desenvolverem novas estirpes do vírus que seguramente entrarão na Europa. Este conflito poderá também afetar a necessária relação de longo prazo entre farmacêuticas e Estados, para continuar a testar vacinas contra as novas variantes e a produzir tratamentos mais eficientes para os sintomas.

As respostas económicas até agora foram pensadas, globalmente, para uma crise curta. À medida que ela se prolonga, cria desequilíbrios crescentes. Por exemplo, no emprego, o layoff, que foi importante quando se achou que a crise não seria longa, ainda esconde desemprego real e está a atrasar a necessária adaptação às novas formas de trabalho que irão surgir depois da crise.  No setor financeiro, a acumulação das moratórias poderá condicionar a recuperação, tanto mais quanto a crise durar. Por fim, a resposta à emergência de saúde está a deixar para trás muitos problemas de saúde, incluindo medidas preventivas, que poderá ter efeitos negativos no futuro.

Em Portugal existe o problema adicional da dependência das PMEs, que estão a ser dizimadas pela crise e podem não ter dimensão suficiente para resistir muitos mais meses. A dependência do turismo também nos coloca numa posição especialmente frágil já que, com o prolongamento da crise, o turismo internacional é dos primeiros setores a sofrer, e onde a confiança provavelmente demorará mais a chegar.

No meio desta incerteza, Portugal, infelizmente, saltou para o primeiro lugar do mundo, com a maior incidência de infetados e de mortes por Covid. Mas o Governo parece não ter aprendido grande coisa no último ano. A estratégia de responder aos problemas à medida que aparecem, que tem sido tão badalada pelo Governo, incluindo pelo Primeiro Ministro, significa que temos respondido demasiado tarde a problemas que já eram previsíveis.

O que se tornou inteiramente óbvio esta semana é que a crise ainda está longe de acabar e que as sequelas serão complicadas e duradouras. Esta constatação exigiria uma visão estratégica que vai para além do acesso aos fundos europeus. Infelizmente nem este Governo quer, nem tem o suporte parlamentar para fazer as mudanças profundas que são necessárias, e a oposição está demasiado fragmentada para ter esse papel.

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