Ao contrário da previsão de muitos, no discurso de 9 de Maio, Putin não ofereceu aos russos uma celebração de vitória. O Presidente russo não tem uma vitória para oferecer, já que a guerra na Ucrânia chegou a um impasse de onde não se vê saída a curto prazo. Por isso, Putin também não declarou o fim da guerra e a retirada das tropas russas. O Presidente russo não pode sair da Ucrânia sem uma vitória. Prefere a guerra a uma retirada humilhante. No discurso de 9 de Maio, Putin preparou a população russa para uma longa guerra.

Os ucranianos também não aceitam um acordo de paz com a situação militar na Ucrânia, onde os russos conquistaram mais território desde o início da guerra, ocupando agora cerca de 20% do país. Nenhum governo na Ucrânia sobreviveria a uma paz que aceite a perda de 20% do território. Além disso, os ucranianos acreditam que podem forçar as tropas russas a recuar no campo de batalha. Será difícil e, se acontecer, demorará muito tempo.

Os dois lados preferem assim continuar a guerra. Neste momento, não é possível fazer um acordo de paz que satisfaça os dois lados. Os russos querem conquistar mais território, e os ucranianos querem expulsar o invasor do seu país. Mas nenhum dos lados tem a força militar suficiente (no caso russo, a força militar convencional) para uma vitória rápida. A guerra vai assim durar meses, ou mesmo anos.

Irá Putin seguir uma estratégia de escalada militar para alcançar a vitória? Não acredito que use armas nucleares. Putin não é razoável, mas também não é irracional e as forças armadas não querem o uso de armas nucleares. Mas pode alargar a Guerra a outros países. A Moldávia está na linha da frente, sobretudo se Moscovo decidir tentar conquistar Odessa.

Mas há outra data importante. A Finlândia prepara-se para pedir a adesão à NATO, assim como a Suécia. O caso finlandês é mais problemático para Putin, visto que os dois países partilham uma longa fronteira. Também não acredito que Putin ataque a Finlândia, o que levaria a uma guerra com a NATO, o que o Presidente russo seguramente não deseja. Mas haverá provocações russas, e poderá haver respostas da NATO. Imaginem a repetição do que aconteceu há uns anos na Turquia quando os turcos abateram um avião russo que havia invadido o seu espaço aéreo. Por vezes, há acidentes e escaladas militares involuntárias.

De qualquer modo, mesmo que se evite um confronto militar directo entre a NATO e a Rússia (e convém fazer tudo para evitar), a guerra na Ucrânia vai continuar por muito tempo. Neste momento, ninguém tem interesse na paz. A Rússia e a Ucrânia querem ambos ganhar e não aceitam a actual situação no terreno. Vou mesmo mais longe. Não acredito que algum dia Putin assine um acordo de paz com um governo ucraniano, qualquer que seja esse governo. Convém recordar que a primira fase da guerra, entre 2014 e Fevereiro deste ano, durou oito anos e nunca foi possível assinar um tratado de paz.  Só haverá paz na Ucrânia quando Putin abandonar o poder na Rússia. Mas podem passar anos até esse dia chegar.

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