Sábado

Segundo o presidente do Sporting, só os que se fazem de malucos alcançam o sucesso. Caso a tese se confirme, o indivíduo obterá mais êxito do que as batatas fritas. Um destes dias, numa das múltiplas intervenções com que regularmente brinda o público, o sr. Bruno de Carvalho confessava desconhecer o paradeiro da filha, tragédia que o levou a tomar medidas imediatas: uma conferência onde divagou, durante duas horas e meia, sobre fragmentos incompreensíveis de assuntos insondáveis – nenhum relacionado com a criança. Quando descer a rua em pelota e com uma galinha ao ombro, as pessoas acharão tratar-se de um momento particularmente lúcido.

Domingo

Os organizadores de um almoço “celebrativo” do “eng.” Sócrates esperavam 300 convivas. Apareceram 100. É fácil gozar com o desesperado empenho dos presentes, mas será mais útil lembrar a coerência dos ausentes, as incontáveis criaturas que em incontáveis ocasiões recusaram ver o saque público e particular de que o país era alvo. Hoje, essa recomendável gente continua a contestar as evidências, agora ao lado de quem distribui os brindes materiais ou simbólicos que o “eng.” Sócrates lhe proporcionou um dia. Não é por acaso que o largo é do Rato. E é larguíssimo.

Segunda-feira

Segundo o Observador noticiou e a generalidade dos “media” omitiu, o dr. Costa anda a contar patranhas a velhinhos para ganhar uns trocos na especulação imobiliária. Nada contra. Pior, muito pior, são as patranhas que ele conta ao eleitorado em peso. Não sei avaliar o que ele ganha com isso, mas um dia alguém fará as contas daquilo que nós perdemos.

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Terça-feira

Camus dizia que a única questão filosófica séria é o suicídio. O pobre de certeza não imaginava que um dia a eutanásia seria discutida – e, provavelmente, decretada – no parlamento português. Parece-me um local adequado, repleto de esclarecidíssimos sujeitos que ora veneram o sr. Maduro ora oferecem beberetes a dirigentes da bola. Entregar uma fábrica de pirotecnia a um bando de chimpanzés não daria melhor resultado.

Se sou contra o suicídio em versão “assistida”? Não. Sou a favor? Também não. Qualquer pessoa capaz de pronunciar “institucional” sem cuspir percebe que a questão não se presta à habitual infantilidade das “causas”, ou a pretexto para berreiro em “debates” televisivos em registo sim ou sopas. Ao invés das questões de “género” e pechisbeques similares, a decisão acerca da morte acaba por ser um assunto um bocadinho relevante e avesso a “combates” de ociosos. Os deputados deviam poupar os clichés que lhes iluminam as cabeças para matérias ao alcance das mesmas.

Entretanto, registo com curiosidade dois factos. O primeiro é a invocação da liberdade individual para impor o que, afinal, é um processo de nacionalização e legitimação burocrática. O segundo é a circunstância de o PCP se opor à eutanásia como nunca se opôs ao estalinismo: em vez de despachar doentes, os comunistas preferem tratar da saúde aos restantes.

Quarta-feira

Para Sua Excelência, o Presidente da República, “devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo e a entrada do mundo em Portugal”. O perigo de se produzir cerca de oitocentos obituários semanais é o de esgotar rapidamente os elogios de circunstância e ter de descambar para hipérboles sem rédea. Além disso, toda a gente sabe que o responsável por abrir Portugal ao mundo e tal foi um senhor que tinha uma boîte no Bairro Alto e faleceu há tempos.

Quinta-feira

Entre dois aumentos nos preços dos combustíveis, lá irrompe um ministrozinho qualquer metido em trapalhadas, perdão, “lapsos”, perdão, “percalços”. Desta vez, foi um tal Pedro Vieira, que alegadamente é jurista, a desconhecer as “incompatibilidades” do cargo e da praxe. É impressionante como os socialistas exibem uma ignorância tão vasta em todos os domínios terrestres e, não obstante, conseguem acumular pequenas fortunas pessoais e, para cúmulo, governar tão bem. Têm muita sorte, é o que é. E nós também.

Sexta-feira

É claro que o sr. Bruno de Carvalho, proverbial espectáculo de um homem só, não dispõe de relevância fora do exíguo universo do vaudeville. Infelizmente, as televisões discordam e há dias que não tratam de outra coisa. Sempre que espreito, apanho com “imagens exclusivas” do já trágico Campo de Alcochete ou, sobretudo, com “painéis” de sábios a discutir o futuro do Sporting. Ao que apurei, temos os sábios apaixonados, que “pensam Sporting”, “sentem Sporting” e “vivem Sporting”, e temos os sábios isentos, que dizem frases como: “Ainda por cima isto sucede num momento em que devíamos estar preocupados com o ‘Mundial’”. Todos exalam pertinência, mas ainda assim aguardo o dia em que um “painel” debata o futuro de um país cujos “media” foram colonizados pela idiotia terminal. Na verdade, o debate é escusado.