Ponto prévio. Para o leitor incauto, o que se segue poderá ser um bocadinho de informação a mais. Mas a verdade é que estou aqui que não me aguento do meu útero. E como tal solicito desde já ao Observador que me dispense de escrever a crónica de hoje. Hã? “Isso é absolutamente ridículo, Tiago”? Como assim, direcção do Observador? Então um indivíduo já não pode estar à rasquinha do seu útero, que é tratado desta forma insensível e até vil? Razão tinha o PAN ao apresentar um aditamento ao Orçamento do Estado para 2022 defendendo a atribuição de uma licença menstrual que pode ir até três diaspara as pessoas com útero que sofram de dores graves durante a menstruação. Quer dizer, um tipo com uma aflição destas ao nível do útero e ninguém quer saber dele. Isto é uma vergonha, pá.

Se bem que, agora que penso nisso, isto de dar uma licença menstrual de três dias àspessoas com útero” podia ter consequências complicadas. Por exemplo ao nível dos transportes públicos. Veja-se o caso destas últimas semanas, em que houve mais greves que beduns corporais num acampamento de verão do Bloco de Esquerda. Imaginem que os sindicalistas afectos ao PCP, além de invocarem o direito à greve, ainda podiam invocar dores de útero para não trabalharem. Era certinho que passávamos a só ter transportes públicos nos dias da Festa do Avante.

Enfim, só não estamos a viver dias de absoluta ignomínia para as questões de identidade de género porque na Assembleia Municipal de Lisboa o PS viu ser aprovada a sua proposta de distribuição gratuita de pensos higiénicos nas escolas de Lisboa, com a recomendação da deputada do Livre que alertou para a necessidade de que esta medida seja feita de forma inclusiva, não esquecendo os adolescentes trans, e não remetendo a distribuição para espaços exclusivamente femininos”. Ah, pois. Atenção a isso, Câmara Municipal de Lisboa. Toca de disponibilizar toda a linha da Evax também nos balneários da rapaziada com especial destaque para os Evax Cottonlike com abas e que possuem pérolas que neutralizam odores, se me pedem a opinião. Já agora, e ainda nesta linha de raciocínio, propunha que o Serviço Nacional de Saúde passasse a disponibilizar, a título gratuito, a todas as senhoras a partir dos 40 anos testes de rastreio da próstata.

Mas se calhar chega de falar de questões de saúde. Falemos então, para desenjoar um pouco, de varíola dos macacos. Que vos parece? Estupendo, certo? Pois é, aí está ela, a varíola dos macacos, quando quase começávamos a esquecer-nos da COVID. E em boa hora chegou a varíola das macacos, porque ainda há escassas semanas o Partido Socialista apresentou o Anteprojeto de Lei de Proteção em Emergência de Saúde Pública. Lei que corríamos o risco de nunca mais ver posta em prática. Assim sendo, resta-nos torcer para que a varíola dos macacos, digamos, pegue, para beneficiarmos de mais este pedaço de sabedoria legislativa produzido pelo PS com vista a estes momentos de aflição, tipo pandemia. Sim porque se vamos ter uma nova Lei de Proteção em Emergência de Saúde Pública é para usar a nova Lei de Proteção em Emergência de Saúde Pública. Não vamos desperdiçar leis. Que é muito feio desperdiçar leis, quando há meninos em África cheios de vontade de cumprir leis e que não têm sequer uma lei para cumprir.

Não há dúvida que vem em boa hora, a varíola dos macacos. É que depois de dois anos completamente reféns das medidas tomadas pelo Governo por causa da COVID, havia o perigo de desenvolvermos a chamada Síndrome de Estocolmo. Isto é, corríamos o risco de desenvolver um relacionamento afectivo com as restrições impostas por causa da COVID. Calhando a varíola dos macacos servir, também ela, de pretexto para medidas que nos tornem completamente reféns do Governo, será como que uma lufada de ar fresco. Daquele que não se respira num acampamento de verão do Bloco de Esquerda.

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