Depois dos dados divulgados esta manhã, as estimativas do Governo só se irão confirmar-se até ao final do ano se a economia crescer (em média) como cresceu em 2000, e der a volta tal como a seleção de futebol deu a volta contra a Inglaterra no Euro 2000.
Os dados divulgados hoje pelo INE relativos ao crescimento do PIB no primeiro trimestre, não sendo propriamente surpreendentes, não deixam de revelar que a desaceleração da economia portuguesa, que se iniciou no início de 2015 e ainda mais pronunciada.
A expansão de 0,1% no primeiro trimestre face ao final do ano passado e a desaceleração para um crescimento de 0,8% em termos homólogos, assim como a informação dada pelo INE de que a procura externa contribuiu negativamente, já eram expectáveis. As exportações terão recuado bastante – principalmente para fora da zona euro devido à contração da procura de Angola. Já a procura interna manteve a tendência dos últimos trimestres. O consumo privado continua a crescer e o investimento a desapontar.
A confiança dos consumidores tem vindo a subir lentamente desde o inicio de 2015, mas parece ter invertido essa tendência no primeiro trimestre e por último, o desemprego não só interrompeu a tendência de descida como aumentou ligeiramente no primeiro trimestre. Já a confiança dos empresários tem permanecido estável ou marginalmente negativa desde fevereiro.
Os últimos indicadores são particularmente importantes já que grande parte da estratégia a curto prazo passava por um choque de confiança positivo quer para as famílias e para as empresas. Com este choque, o crescimento da procura interna ajudava à redução do défice – quer por mais receitas fiscais, quer por menos despesa. É certo que o consumo continuará a crescer apoiado principalmente pelos aumentos de salários na função pública, no entanto, poderá defraudar as expectativas, se a confiança das famílias não subir e o emprego não recuperar.
O que significam estes números para as estimativas da Comissão Europeia e do Governo?
A Comissão Europeia nas suas últimas estimativas de primavera (divulgadas a 3 de maio) esperava uma expansão ligeiramente superior – 0,2% em cadeia, e espera que até ao final do ano, o crescimento recupere e atinja em média 0,6% por trimestre. Assumindo o mesmo perfil e tendo em conta o número desta manhã, isso significa que o PIB expandir-se-ia 1,3% em 2016 – menos 0,2 pontos percentuais que na última estimativa.
Já a estimativa do Governo para 2016 afigura-se como ainda mais otimista. Para que o crescimento de 1,8% esperado no Programa de Estabilidade seja atingido, a taxa de crescimento trimestral do PIB teria de ser em média 0,9% em cadeia nos próximos três trimestres – algo que aconteceu pela última vez em…2000, o mesmo ano em que o PIB cresceu 3,8%, e Portugal chegou às meias finais do Europeu de futebol, depois da famosa reviravolta contra a Inglaterra e de derrotar a Alemanha! Terá também a nossa seleção excelentes perspetivas para este Europeu?
O que esperar para os próximos trimestres?
Infelizmente, um cenário tão positivo parece altamente improvável – mais facilmente Fernando Santos chegará às meias finais do europeu do que Mário Centeno acertará na estimativa de crescimento.
A procura interna deverá continuar a crescer, mas dificilmente disparará. O consumo continua com perspetivas de expansão dado o acréscimo na reposição dos cortes dos salariais da função pública. No entanto, o grande impulso para a confiança deveria ter ocorrido ainda no final do ano passado aquando do anúncio dos aumentos de rendimento. Os dados de confiança disponíveis ainda só para abril, vão, no entanto, no mesmo sentido do primeiro trimestre. Ou seja, alguma desaceleração do consumo e fracas perspetivas para o investimento.
Já quanto à procura externa, as perspetivas são ainda menos animadoras que para o início do ano. As exportações para Angola deverão continuar a cair, e deverão desacelerar para alguns mercados da área do euro. Já que depois do crescimento acima do esperado no primeiro trimestre das maiores economias (com a Alemanha e Espanha a crescerem 0,7% e 0,8% respetivamente), estas deverão corrigir ou no segundo trimestre ou na segunda metade do ano.
Ou seja, tendo em conta os constrangimentos externos e o fraco potencial interno, ate a própria estimativa da Comissão Europeia pode parecer demasiado otimista. Assumindo um crescimento médio mais modesto até ao final do ano (0,4% por trimestre), levaria a um crescimento de apenas 1% para este ano.
Portanto, depois da “forte” recuperação em 2015 (1,5%), as perspetivas apontam cada vez mais para uma desaceleração acentuada. Nada de novo infelizmente, para uma economia que cresceu em média menos de 1% entre 2000 e 2009.
Economista