Alguns grupos de jovens ativistas angolanos tentaram hoje manifestar-se contra o Governo, em Luanda, mas foram travados pela intervenção da Polícia Nacional, conforme se constatou no local. O protesto envolvia dez movimentos contestatários reunidos no autodenominando Conselho Nacional dos Ativistas de Angola, que, além de críticas à política do executivo, exigiam a demissão do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
A manifestação estava agendada para as 15:00 (menos uma hora em Lisboa), com concentração no largo 1.º de Maio, no centro de Luanda. Contudo, o acesso ao espaço foi vedado pelas autoridades, entre elementos da polícia regular e de intervenção. Estes elementos impediram e dispersaram a concentração de grupos de manifestantes próximo daquele largo, mas com ações repressivas aparentemente menos violentas do que as observadas em protestos anteriores.
Ainda assim, segundo relato feito à Lusa por Raúl Mandela, do Conselho Nacional dos Ativistas de Angola, cerca de 15 jovens terão sido detidos durante o dia e dez foram feridos pela polícia. A Lusa não conseguiu confirmar esta versão junto das autoridades policiais.
No entanto, também o dispositivo policial – visível – em Luanda foi hoje menor, igualmente comparando com as restantes manifestações já realizadas este ano. O desemprego, a falta de habitações e de terrenos para construir, mas também de água potável, eram assuntos sobre os quais estes dez movimentos pretendiam apelar para a reflexão do povo, conforme se pode ler nos panfletos distribuídos pela capital angolana, a convocar a manifestação.
Por outro lado, reafirmam que os dirigentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder desde a independência, em 1975, “não se preocupam em dar emprego aos angolanos” e acusam “portugueses e brasileiros” de ficarem com postos de trabalho na restauração, hotelaria ou construção civil.
Os manifestantes ameaçavam ainda levar o protesto até ao palácio presidencial, área que conforme a Lusa verificou esteve hoje fortemente guardada por dezenas de elementos da Unidade de Guarda Presidencial (UGP). Estes ativistas equacionam sair de novo à rua no domingo, indicaram ainda.
Interpretado como um aviso sobre esta manifestação, o ministro do Interior, Ângelo Veiga Tavares, recomendou, na segunda-feira, firmeza e vigilância redobrada face a “reiteradas e veladas” tentativas de alteração da ordem democrática e constitucional por parte de algumas forças políticas. Referiu, sem apontar nomes, que algumas dessas forças, usando artifícios antidemocráticos, têm tentado fazer em Angola “uma réplica do que aconteceu em alguns países vizinhos”. Estas manifestações antigovernamentais, que se sucedem desde 2011, terminam por norma com várias detenções e confrontos com a polícia.