Ana Gomes respondeu às críticas de Isabel Moreira, que antes tinha afirmado que o pedido da eurodeputada para a reabertura do processo dos submarinos era movido pelo “ódio pessoal” a Paulo Portas. Ana Gomes lembrou que sempre tentou “ajudar a investigação do [caso] dos submarinos e outros sobre corrupção”, acrescentando que tentou igualmente “que se investigassem os voos tortura [da] CIA. E Isabel Moreira?”, questionou no Twitter.

Os voos tortura da CIA mencionados pela eurodeputada socialista estão relacionados com uma polémica que rebentou em 2008 e que envolveu o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado e o primeiro-ministro José Sócrates. Na altura, um relatório da ONG Reprieve dava conta que, desde 2002 até aquele ano, 728 dos 744 prisioneiros transportados para Guantánamo terão passado por “jurisdição portuguesa”, algo que Luís Amado sempre negou.

Dois anos depois, o tema voltou a marcar a agenda política: a Wikileaks divulgou vários telegramas enviados pelo embaixador dos EUA em Lisboa, Alfred Hoffman, para Washington, entre 2006 e 2007, onde revelava que Sócrates terá autorizado o repatriamento de vários prisioneiros de Guantánamo através das Lajes.

O que tem isto a ver com Isabel Moreira? Ana Gomes perguntou se não tinha sido Isabel Moreira a assessorar Luís Amado para impedir a abertura do inquérito ao caso.

“Isabel Moreira que me ataca por tentar expor corruptos no [caso] dos submarinos era a mesma que assessorava Luís Amado para impedir o inquérito [sobre] os voos tortura CIA?”

Isabel Moreira: lama e perseguições

Mas a troca de argumentos parece não ter ficado por aqui. Isabel Moreira, num texto publicado no blogue Aspirina b, já reagiu às críticas de Ana Gomes e acusou a eurodeputada de atirar “lama em redor”, “uma técnica compreensível de quem saiu do MRPP, mas que continua com o MRPP dentro dela“, para depois acrescentar que o argumento de Ana Gomes “desmascara-se com o desespero”.

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No texto, com mais de 14 pontos, Isabel Moreira, trata então de “desmascarar” o argumento de Ana Gomes. Assumindo que foi, de facto, assessora de Luís Amado, Isabel Moreira lembrou que Ana Gomes também tinha feito parte da comissão temporária que investigou os voos da CIA em Portugal, mas que a “amante de direitos humanos” queria “limitar a investigação ao período de governação de Barroso e de Portas, usando o processo para os queimar”.

Naturalmente levou 2 berros, porque um ministro de Estado não defende o PS, representa o Estado e, nesse sentido, a nossa investigação abarcou todos os governos, sem tentativas torpes de queimar pessoas, pelo contrário, abrindo todas as gavetas daquele ministério a começar pelas do tempo de então, o do PS”, conta Isabel Moreira.

E como reagiu Ana Gomes à recusa em limitar a investigação ao período Barroso/Portas? “Iniciou um processo de má-fé absoluta, com ajuda de alguma imprensa, mostrando-se nas tintas para os outros países e tudo fazendo para mostrar o impossível: Portugal tinha ajudado os EUA a fazer aquela monstruosidade”, revelou a deputada do PS.

Ora, para Isabel Moreira, “é evidente que o ódio com que viveu aquele processo veio do facto de Luís Amado não ter acedido em usar o Estado para perseguir Barroso e Portas“.

No fim, depois de Portugal ter sido “ilibado pela comissão temporária e pela PGR”, Ana Gomes “ficou a falar sozinha“, algo que até hoje não convence a eurodeputada. “Mau para Ana Gomes ter falado neste caso, porque poucas coisas a revela mais do que o dito”.

E Isabel Moreira, então “uma jovem assessora jurídica”, garante que aprendeu “muito sobre a má-fé alheia”.

Carta aberta enviada a Ricardo Costa, diretor do Expresso

A eurodeputada aproveitou também para se defender da notícia publicada pelo Expresso no sábado, que dava conta de que Ana Gomes tinha interpretado mal os erros nas transcrições das escutas a Paulo Portas – “aquilo” e “Canalis” não se referiam a “Michael Canals”, como sugeriu Ana Gomes, mas antes ao “canal de Kiel”, no norte da Alemanha.

Numa carta enviada ao diretor do jornal, Ricardo Costa, a eurodeputada afirmou que o Expresso tentou associá-la a “mais confusões sem explicitar” salientando que: “apenas reproduzi ipsis verbis elementos do processo para os quais, de resto, solicitei aclaramento através do pedido de abertura de instrução”.

Ana Gomes defende-se, dizendo que, ao contrário do Expresso e da SIC Notícias, não teve acesso às escutas telefónicas em questão, apenas às transcrições destas.

“O Expresso e a SIC Notícias tiveram mais sorte do que eu, assistente no processo com escassos 24 dias (…) Ambos têm em seu poder, e trataram até de difundir, gravações de telefonemas entre Abel Pinheiro e Paulo Portas (eu apenas li, não ouvi, transcrições constantes do processo)”, escreveu Ana Gomes,

A eurodeputada aproveitou, ainda, para sublinhar que as escutas em questão constam num processo ainda em segredo de justiça e que a sua difusão viola o segredo de justiça, “o que eu não fiz e inequivocamente condeno”.

Ainda assim, desafiou os órgãos de comunicação social referidos, desde que respeitassem o segredo de justiça, a “aprofundarem a investigação jornalística sobre muitas outras razões que invoquei para requerer a abertura da instrução” e a publicarem os resultados dessa investigação.

E o que quer Ana Gomes ver investigado? Os alegados crimes cometidos no negócio dos submarinos, “que bafejou, pelo menos, o Grupo Espírito Santo por duas vias – ESCOM e BES”. E, além disso, “o intenso tráfego de contactos entre Paulo Portas e o tesoureiro do CDS/PP Abel Pinheiro, e deste com Luís Horta e Costa da ESCOM, com quadros do BES e outras pessoas, referentes a projetos do GES, e não só”.

Mas a eurodeputada não se fica por aqui e desafiou ainda o Expresso e a SIC Notícias a “decifrarem elementos constantes no processo alusivos a empréstimos e a depósitos que o CDS-PP tinha então no BES e ao fundo “ad usum delfini” que Abel Pinheiro geria para uso exclusivo de Paulo Portas“.

(Pode ler a carta de Ana Gomes na íntegra aqui)

[Artigo atualizado às 21h13 com a resposta de Isabel Moreira no blogue Aspirina b]