A Figaros Barbershop, a barbearia lisboeta que proíbe a entrada a mulheres, foi invadida no último sábado por um grupo de pessoas de rostos cobertos. A manifestação foi registada num vídeo publicado a 22 de fevereiro no Youtube, onde se percebe que um conjunto de pessoas não identificadas — que, na sua maioria, parecem ser mulheres — ocupam o espaço sem permissão. Um dos intervenientes leva ainda uma máscara alusiva a um cão, numa associação ao letreiro que se encontra à porta da Figaros — podem entrar homens e cães, mas o acesso está interdito ao sexo feminino.
No vídeo com menos de dois minutos e intitulado “Cães que ladram — Ninguém nasce cão” vê-se que o grupo de pessoas não é bem recebido assim que entra na barbearia à rua do Alecrim a emitir o que parecem ser latidos. No centro da polémica estará a discriminação sexual, tal como se pode ler no blogue L’obéissance est morte que comenta o sucedido, com fotografias da invasão à mistura, num post publicado este domingo: “Há gente que acha normal que existam estabelecimentos comerciais que afixem na sua porta a mensagem que homens e cães são autorizados a entrar e que mulheres fiquem no exterior. Pois bem, o princípio de igualdade deve fazer parte de todo e qualquer serviço ao público”.
Na página de Facebook, a barbearia parece já ter respondido, ao tornar público o seguinte comentário: “Despite all haters and invaders we continue working with our uniforms and won’t be wearing any bullet proof vest”. Traduzindo para português, e trocado por miúdos, “Apesar de todos os que nos odeiam e nos invadem, continuamos a trabalhar com os nossos uniformes e não vamos usar quaisquer coletes à prova de bala”.
A Figaros Barbershop abriu em meados de 2014 e desde de logo deu nas vistas por proibir a entrada a elementos do sexo feminino. A polémica instalou-se quando o jornal Diário de Notícias publicou um artigo, em outubro último, que levantava a questão: discriminação ou marketing? Ao Observador, o fundador do projeto respondeu explicando que aquela era uma barbearia de estilo americana, com serviços exclusivos aos homens, à semelhança do que acontece em países como Estados Unidos da América, Holanda e Bélgica.
“As mulheres, quando acompanham os maridos ou os namorados, devem entender que este é um espaço reservado a homens. A sua presença vai deixá-los pouco à vontade”, dizia, então, Fábio Marques. “Se eu pago uma renda por ele e os [poucos] lugares que existem são para quem está à espera, porque tenho de permitir a entrada de pessoas que não vão usufruir dos serviços? Não vamos tratar por igual aquilo que é diferente e, felizmente, os homens são diferentes.”
Para Fábio Marques, esta era — e deverá continuar a ser — uma “não-questão”, afiançando que o conceito da barbearia não pretendia ser depreciativo nem comparar as mulheres com os animais. “É humorístico. Achamos que a emancipação das mulheres é um dado adquirido em pleno século XXI e que há questões mais sérias, como a igualdade salarial.”