Os impactos da queda do preço do petróleo na economia de Angola não são tão negativos como as pessoas pensam, disse hoje à Lusa o responsável da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA).
“África é mais importadora que exportadora e infelizmente só 30% da produção é refinada” no continente, por isso “quer a Nigéria, quer Angola, vão crescer acima dos 4%, ou seja, não é tão bom como dantes mas também não é assim tão mau”, disse Carlos Lopes em entrevista à Lusa.
“Os preços estão mais voláteis sobre o petróleo bruto do que para os produtos refinados, o que aponta na direção da necessidade de transformar as matérias-primas locais através da industrialização e isso poderia criar emprego e trazer valor, reduzidno o impacto das baixas de preços ou outras volatilidades”, detalhou o economista guineense que trabalha para a Organização das Nações Unidas há quase três décadas.
“A realidade não é o que as pessoas pensam”, explica, exemplificando que apesar de as receitas fiscais terem diminuído por causa da descida do preço do petróleo desde a segunda metade do ano passado para cerca de metade da média dos últimos anos, “”África não vai sofrer com a queda, no seu conjunto”.
Mesmo os que mais diretamente sentem este impacto, como a Nigéria e Angola, os dois maiores produtores, “a realidade não é o que as pessoas pensam, porque a capacidade de endividamento é muito alta, e podem compensar essas falhas de mercado”.
Questionado sobre o aumento das taxas de juro que os investidores exigem para emprestar dinheiro a esses países, por temerem o incumprimento, ou para capitalizarem a necessidade de financiamento desses governos, Carlos Lopes desvaloriza essa subida, argumentando que “o mercado tem mostrado grande apetência [pelas emissões de dívida pública africana], com taxas de 4,5 a 6%, o que é perfeitamente aceitável”.