Entre uma colagem à Grécia ou uma descolagem do Syriza, António Costa tentou, no rescaldo do referendo grego, encontrar a bissetriz que não assuste parte do eleitorado que pode vir a votar no PS. Numa declaração na sede do partido, o líder do PS quis vincar que “o PS não é o Syriza”, mas que está ao lado dos gregos na luta “conjunta” pelo “não” à austeridade. Como? Através de um acordo no seio da União Europeia, porque “o euro é importante”, mas não pode ser mais do que os princípios, entre os quais “a democracia”.
Por partes. António Costa tem ouvido no partido algumas vozes mais pró-Alexis Tsipras ou pró-Syriza, mais à esquerda, e perante uma vitória “expressiva” do “não”, como lhe chamou, o secretário-geral do partido subiu ao terreno para dar a voz ao posicionamento dos socialistas. Durante do fim de semana a tarefa ficou entregue a Porfírio Silva, mas começada a semana, e nas vésperas de mais um conselho europeu para discutir a consequências da recusa grega, Costa quis ser o próprio a marcar terreno para defender que os gregos não votaram por uma saída da zona euro e que isso tem de ser respeitado:
“A decisão soberana do povo grego de rejeitar a proposta de acordo que foi submetida a referendo, tem de ser respeitada, como o foram, aliás, em outras ocasiões, deliberações referendárias de outros Estados membros. (…) É absolutamente inaceitável que a recusa desta proposta seja entendida como recusa de participar na zona euro ou possa servir de pretexto para tentar, ao arrepio dos Tratados, excluir a Grécia do euro”, disse na declaração que levava preparada. Além disso, referiu Costa, a ameaça que está nas fronteiras da Europa pede mais atenção ao problema grego e à sua manutenção na União Europeia.
O socialista tem insistido na ideia que o PS é o partido da alternativa à austeridade que se quer responsável. Repete a ideia e marca, mesmo que de forma suave, a diferença em relação ao Syriza: “O PS não é o Syriza. Cada partido e cada país têm as suas escolhas próprias”, afirmou já em resposta aos jornalistas dizendo que o PS tem mantido uma atitude coerente ao longo dos meses em que chegou à liderança. Por isso, pede “respeito” pelas decisões dos gregos, tal como respeito pelas dos alemães. Neste caso, esta é a quadratura do círculo difícil de alcançar uma vez que os dois desejos estão em extremos opostos. Mesmo assim, Costa acredita que um acordo é possível:
“Não admitimos um cenário de não acordo. Só há um cenário bom para a Europa”, referiu acrescentando que “em caso algum” se deve sacrificar os princípios da democracia “em nome de uma moeda, que é importante mas é um instrumento”.
Costa empunha a posição dos socialistas europeus – mesmo depois da palavras mais amargas do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz – para dizer que é possível na Europa uma outra visão para o futuro dos gregos e outra visão para a Europa, ou seja, uma “nova oportunidade para uma nova abordagem da crise da zona euro”: “A expressiva vitória do “Não” no referendo de ontem, deve ser aproveitada por todos para uma nova abordagem da crise da zona euro, que respeite a dignidade e a igualdade entre todos os Estados membros”. Até porque apesar de todas as políticas de austeridade por cá e noutros países, “a Grécia é a mais dramática ilustração do fracasso das politicas de austeridade e desvalorização interna no relançamento da economia e na consolidação das finanças públicas”.
Por cá, Costa diz a Passos Coelho que esta é “a última oportunidade para o Governo português adotar uma posição construtiva”.