É um dia histórico. Este sábado, a Arábia Saudita vai a votos e, pela primeira vez na história daquele país, as mulheres, que não podem conduzir, ir para a universidade ou viajar para o estrangeiro sem a permissão de um familiar do sexo masculino, vão poder votar e candidatar-se à liderança dos municípios. Os mais céticos olham para o gesto apenas como uma forma de mostrar abertura para o exterior, sem impacto real na alteração do estatuto da mulher na sociedade saudita, mas entre as mulheres o “primeiro passo” é aplaudido. Ainda que seja considerado apenas uma agulha no palheiro da igualdade e dos direitos das mulheres.

“É um primeiro passo para nos tornarmos cidadãs mais ativas”, disse ao Wall Street Journal Salma al-Rashid, uma das responsáveis por um dos grupos que esteve por detrás da campanha para promover o voto das mulheres. A esperança é de que a permissão para votar seja um sinal de que aquela monarquia ultraconservadora do Golfo possa vir a tornar-se um local mais democrático.

Há, no entanto, quem veja o gesto como uma distração de outros problemas maiores, como a questão da tutela masculina perante as mulheres, ou da desigualdade no acesso ao divórcio, casos de custódia ou heranças. Ou ainda do facto de serem impedidas de conduzir. “Não se trata do direito ao voto, e mais uma questão de adquirir direitos humanos básicos”, diz Al Hanouf al-Dahash, um banqueiro de 27 anos, citado pelo Wall Street Journal.

Certo é que a Arábia Saudita é uma monarquia quase sem espaço para a participação política e sem Parlamento eleito. A primeira vez que houve eleições municipais, como as que vão decorrer este sábado, foi em 2005. As mulheres, que não estão autorizadas a fazer praticamente nada sem o consentimento de uma figura masculina, têm vindo, ainda assim, a conquistar pequenos passos rumo à participação na vida pública e ao ingresso no mercado de trabalho.

De acordo com o mesmo jornal norte-americano, as mulheres que se registaram para votar no sufrágio deste sábado representam apenas uma pequeníssima porção do eleitorado – cerca de 130 mil num total de 1.49 milhões de votantes. Quanto a candidatas, a amostra é igualmente pouco representativa: há apenas 980 mulheres a correr, de um total de mais de 6.900 candidatos, sendo que as expectativas de que alguma candidata vença são poucas ou nenhumas.

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