O CDS sugere que o ministro da Defesa ou o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) esconderam do Parlamento informações sobre o furto de peças de carros de combate da base de Santa Margarida, que apareceram numa sucata na Chamusca. Ao Observador, o deputado João Rebelo, que integra a comissão de Defesa Nacional, considera que, entre Tancos e este novo caso de desaparecimento de material militar, “é tudo muito perturbador”. Marco António Costa (PSD), presidente da comissão da Defesa, queixa-se de “obstáculos” sem paralelo do Governo e do Exército ao trabalho da comissão. Como o PS chamou o ministro da Defesa com urgência ao Parlamento depois de serem encontradas as armas levadas de Tancos, agora há mais este assunto sobre a mesa, que põe em causa a segurança das instalações militares.

Nas audições ao ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e ao CEME, general Rovisco Duarte, o CDS colocou várias perguntas sobre outros furtos em contexto militar, em Portugal e no estrangeiro. Nunca recebeu de qualquer dos responsáveis, político e militar, qualquer informação sobre aquilo que se estava a passar em Santa Margarida. “Confrontei o ministro com vários furtos na Europa e em Portugal, e ele teve oportunidade de falar sobre isso. Se não sabia, devia saber. Ou então o Exército omitiu dar esta informação”, sublinha João Rebelo. “Seja como for, é muito perturbador.”

Além de Tancos, Santa Margarida. Peças furtadas de carro de combate encontradas na sucata

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Quando os Paióis Nacionais de Tancos foram alvo de um assalto, no final de junho, já o Exército sabia que tinham desaparecido partes de equipamentos militares de Santa Margarida. Aliás, foi um militar do Exército que fez o reconhecimento daquelas peças na sucata, identificando-as como parte de blindados de lagartas da base militar.

João Rebelo deixa ainda outra questão, ligando o furto de Tancos à possibilidade admitida pelo Exército de recolocar o armamento daqueles paióis nacionais em Santa Margarida. “Se o Campo de Santa Margarida é escolhido como o local para recolher tudo o que estava em Tancos, suspendendo as obras, porque não havia condições, com o argumento de que era mais seguro, perante estes detalhes, em que as pessoas circulam à vontade por áreas militares, vamos colocar material militar e militares numa zona assim?”, questiona-se o centrista.

Marco António Costa foi apanhado de “surpresa” pela notícia de que há lagartas de carros de combate a serem desmantelados em Santa Margarida para que as peças sejam depois vendidas ilegalmente a uma sucata. “Nunca tivemos qualquer informação” sobre este caso, diz ao Observador o presidente da comissão de Defesa, lembrando precisamente que, a respeito do furto de armamento de material de guerra dos Paióis Nacionais de Tancos, ministro e chefe militar foram confrontados com questões sobre outros furtos. “Cria-me apreensão e preocupação adicional”, admite o social-democrata.

A pensar na suspensão provisória de cinco oficiais superiores durante a investigação ao furto de Tancos, e que entretanto foram reconduzidos nas suas funções –, mas também nas audições ao secretário-geral das secretas e à secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Marco António Costa deixa um lamento:

Sinto, como presidente da comissão, que há como que uma obstaculização dos sistemas de acesso à informação por parte da comissão”, diz, denunciado uma “obsessão de não deixar comissão fazer o seu trabalho”.

O deputado do PSD não aponta diretamente responsáveis por esses obstáculos, mas sublinha que “o próprio primeiro-ministro terá manifestado descontentamento pelo facto de a comissão fazer o seu trabalho, como lhe compete”. E ainda deixa a questão: “Quem é que teme perante a circunstância de a comissão apurar o que decorre disto tudo?”

O deputado considera que estas questões estão a ser tratadas com “displicência” e questiona a integridade dos relatórios que sustentaram a escolha do novo local em que o material militar seria guardado. “O Governo anunciou que esta decisão decorria dos relatórios que foram feitos e que não nos foram mostrados”, recorda João Rebelo, sem esconder a estupefação.”Já tinha ouvido falar do furto de cobre, mas como é possível entrar num campo militar para furtar cobre ou outras coisas?

Depois de ser divulgada a apreensão do material furtado de Tancos, o PS anunciou que iria chamar o ministro de Defesa à Assembleia da República, com caráter de urgência. O CDS tem agora novos motivos para questionar Azeredo Lopes: “Ele vai ter que explicar o que se passa à volta disto.” Até porque, considera o centrista, este novo caso “ dá um ar de desleixo que não pode ser a imagem das Forças Armadas”. João Rebelo diz que “a clarificação, a informação, a transparência é o que as Forças Armadas merecem e o País quer”.